27/04/2011

Páscoa desportiva

O Centro de Animação Cultural do Casteleiro levou a efeito a iniciativa “Páscoa Desportiva”. No sábado, foi tempo para o reviver de alguns jogos tradicionais e, no domingo, um disputado jogo solteiros/casados que terminou com um suado empate.



























20/04/2011

O som das badaladas

Na minha aldeia, durante muitos anos, a única forma de orientação para lá da inclinação do sol, era o relógio instalado na torre da igreja.
Dlam, dlam, dlam…
Dolente, sem pressa, ia batendo as horas e dizendo a cada um, em que ponto do dia se encontrava.
Com os ouvidos sempre atentos, as cabeças erguiam-se e contavam:
Uma.
Duas.
Três…
Era a este ritmo manso que, naquele tempo, decorria a vida.
De dia e de noite.
O sino era uma companhia sempre presente.
Se por acaso parava (às vezes esqueciam-se de lhe dar corda), era logo notada a sua falta.
«Hoje o relógio não dá as horas!»
«Que horas serão?»
«Ai, isto assim é uma tristeza»!
Ouvi pessoas dizerem que o relógio era uma companhia, tal era a solidão.
Sempre que me lembro daquele som, revejo a aldeia quieta, serena, em silêncio.
Era um toque forte mas triste.
Sem pressas.
Um toque que soava cá mesmo no fundo, que mexia comigo, sobretudo se fosse em dias de tristeza ou de preocupação.
Ainda hoje quando telefono para casa e oiço lá longe o sino actual, mesmo sem querer, sou transportada para esse tempo.

Depois havia os outros toques do sino.
Esses tinham outras funções.
Praticamente as mesmas de hoje quase sempre relacionadas com actos religiosos.
Mas havia um toque que me marcou mais que qualquer outro.
O toque que anunciava mortes, o toque «a dobrar».
Era certo que esse era um dia de tristeza.
Como a aldeia era e ainda é pequena, a tristeza era geral, o espírito de união deixava todos com um semblante carregado e unidos na dor.
O sino aumentava ainda mais esse sentimento.
Dou comigo muitas vezes a recordar para mim mesma um célebre poema de Fernando Pessoa:

Ó sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma.

Como é lento…

É bom recordar.
Ainda que as recordações por vezes, não sejam tão agradáveis assim.
É sinal de que aceitamos o passado.







Texto de autoria de Maria Dulce Martins

19/04/2011

Águas Radium, obviamente!

A foto aqui publicada é, de facto, das Águas Radium na Serra da Pena. Foi retirada de um blog onde poderão ver outras belas imagens. Aqui.


E porque o edifício das Águas Radium nem sempre foi ruína, aqui fica uma foto do tempo em que estava em plena actividade termal e outra da publicidade feita em Madrid.






16/04/2011

Sandra Fortuna integra lista de deputados



A nossa conterrânea Sandra Fortuna integra a lista de candidatos a deputados do Partido Socialista pelo Distrito da Guarda.

É com grande orgulho que as gentes casteleirenses e, estou certo, do concelho do Sabugal, recebem esta notícia.

A Sandra Fortuna tem já um percurso profissional e de vida a todos os títulos exemplar, de dedicação à causa pública, mas também na áreas do ensino e da solidariedade social. Como Vereadora eleita na Câmara do Sabugal tem liderado a oposição ao actual executivo camarário, pautando a sua intervenção pela defesa intransigente de um Concelho com futuro, onde dê gosto viver e trabalhar.

A sua inclusão na lista de candidatos a deputados é o reconhecimento público e assumido que a Sandra Fortuna reúne condições para contribuir, na Assembleia da República, pela defesa e engrandecimento de todo o Distrito da Guarda.

Para nós, casteleirenses, que conhecemos a Sandra desde que nasceu, é reconfortante saber que os méritos que lhe reconhecemos vão muito além da nossa terra!

No próximo dia 5 de Junho, os casteleirenses e as gentes do Concelho do Sabugal, irão confirmar que confiam na Sandra Fortuna e que se revêem na sua representatividade.


António José Marques


13/04/2011

Quem identifica o local?


Volfâmio, as minhas lembranças

Lembro-me do minério negro e ainda húmido, a secar sobre um tolde em minha casa, à espera de comprador. Tinha sido extraído em Gralhais, naquela a que chamavam a vala rica. Era dado este nome à dita vala, por ter uma quantidade de minério superior ao normal e também por aparecerem juntamente com o volfrâmio, pequeninas pipetas de ouro. O volfrâmio naquela época não me interessava muito, mas o ouro sim. Era bastante atractivo, apesar dos meus seis ou sete anos. Catava então as pequenas pipetas, que juntava numa caixa até encontrar comprador. A concorrência para a comercialização naquela altura não era muita, mas acabava por aparecer um judeu de Belmonte, que era o mesmo que comprava as peles dos borregos, e os “cornachos” extraídos dos cereais. Havia então que negociar com o judeu, embora o negócio não fosse propriamente renhido. Dava cinco tostões ou dez, depois de algum adulto dizer que era muito pouco, que tinha que dar mais alguma coisa.

Acontecia que todo o minério extraído tinha que ser declarado, o que nem sempre acontecia. Recordo-me então de vir do Sabugal a GNR investigar e levar todo o minério que encontrou na aldeia, inclusivamente o do meu pai, Manuel Guerra e do meu tio, Manuel Machado. Acontece, porém, que quem o comercializava e por conseguinte tinha sempre maior quantidade, era o Joaquim Soares, a quem não foi apreendido sequer um punhado. Gerou-se então uma grande confusão na aldeia. Pensavam que só podia ter sido suborno, ou que ele próprio tivesse denunciado os outros. Ali havia gato, pensavam. Mas afinal não havia. O que aconteceu foi que os Agentes da GNR foram almoçar a uma tasca no Sabugal, então a empregada, uma tal Trindade, que era do Casteleiro, ouviu a conversa e contou ao dito comerciante Joaquim Soares que estava programada uma acção de fiscalização para aquele dia, pelo que ele fez de imediato desaparecer todo o volfrâmio que tinha na sua posse.

Cada um vivia à sua maneira o dinheiro resultante do volfrâmio, mas era certo e sabido que todos os Domingos havia baile no terreiro de S. Francisco. Com o baile e o vinho, era certa a zaragata. Umas vezes porque os dois queriam dançar com a mesma rapariga, outras porque tinham que defender a honra, e a melhor maneira de o fazerem era à pancada.
Então num desses Domingos exageraram na zaragata. Um deles ficou caído no chão sem se levantar. Julgavam-no morto e houve alguém que telefonou para a GNR. Os agentes chegaram e perguntaram onde está o morto? Levanta-se então do chão o dito morto e responde, sou eu Sr Guarda.

Texto de autoria de Maria do Nascimento Guerra Soares

18/03/2011

"Viver Casteleiro" atinge 20 mil visitas


O “Viver Casteleiro” atingiu hoje as 20000 visitas.
Iniciado em 23 de Setembro de 2009, foram já publicados cerca de 250 posts para um total de 55 mil page views.
Progressivamente, o “Viver Casteleiro – Terra com Futuro” tem vindo a afirmar-se como meio privilegiado de informação para todos os casteleirenses, independentemente do local onde residem.
Aqui fica a nossa promessa de continuar!

15/03/2011

D. Aurora, uma professora de muito má memória


Veio do Marmeleiro, que era a sua terra natal.
Era ainda solteira e casou na nossa terra.
Oiço a história dela desde criança.
Mas nunca tive disponibilidade para contar estas tristes cenas.
Vai ser hoje.
Estava-se nos anos no início dos anos 30 do século XX.
Mais propriamente, em 1932/33.
Foi colocada no Casteleiro uma professora terrível que fez muito mal às raparigas.
Tanto que, nos oito ou nove anos em que esteve na nossa terra a dar aulas, apenas quatro raparigas fizeram a 4ª classe – as outras, todas, ficaram pelo caminho, na segunda ou na terceira classe e daí nunca passaram.
Fazer a 4ª classe nesse tempo era coisa séria e tinha muito valor.
A D. Aurora (mais tarde Aurora Carrilho, porque casou com o Professor Carrilho) era de tal calibre que muitas crianças ficaram assinaladas fisicamente – para lá da tortura psicológica de terem de ir às aulas daquela carrasca. Batia sem dó nem piedade. Feria e marcava as raparigas.
A escola dos rapazes era onde agora funciona o Centro Médico. A das raparigas era do outro lado da estrada, quase em frente.
Nessa altura, o sino tocava quatro badaladas para início das aulas. A esse toque, as crianças tinham um baque no estômago. Umas choravam. Outras vomitavam. Outras berravam e fugiam. Outras iam para a varanda a chorar desnorteadas. Outras ficavam tão nervosas que, se estivessem a comer, até deixavam cair a colher.
Uma desgraça.
Uma das poucas crianças que conseguiram fazer a 4ª classe, ela, a D. Aurora, levou-a a exame ao Sabugal com um braço partido – que ela lhe tinha partido à tareia.
A outra, partiu-lhe uma pedra de escrever na cabeça e teve de levar «cinco agrafes».
Mas um dia a coisa podia ter dado mau resultado: as mães das crianças revoltaram-se de tal modo que foram à escola onde a professora até tinha deixado as raparigas fechadas – esqueceu-se delas… e ameaçaram tratar-lhe da saúde, de tal modo já estavam fartas dela.
E isso, não esquecer, em anos duros com a ditadura a dar os primeiros passos.
Antes desta besta desta professora, no entanto, esteve a dar a primária no Casteleiro uma professora chamada D. Estrela. Não batia. Tratava muitas vezes as alunas por filhas. Imaginem a surpresa e o pânico das mesmas crianças quando, na segunda e na terceira classe apanham aquela «algoz» daquela D. Aurora.
Diga-se que com a D. Estrela e, antes dela, com a D. Gracinda, mulher do Sr. Firmino (comerciante), houve muitas crianças com a 4ª classe feita com distinção.
Mesmo que os castigos físicos fossem uma regra destas épocas terríveis.
Agora… Donas Auroras, nunca mais!






"Memória", espaço de opinião de autoria de José Carlos Mendes

13/03/2011

Como Ulisses, regresso a Ítaca

Peregrinando dia a dia à sombra do Convento de Mafra onde resido há mais de quarenta anos, quantas e quantas vezes regresso em recordação e desejo ao Casteleiro (a minha Ítaca). Aí, nesse vale formado pelo sopé das serras d’Opa, Vila, Mosteiro e Presa, nasci e vivi a minha infância. Aí cresci menino no Largo da Fonte até fazer a quarta classe, depois de molestado por algumas reguadas e golpes de cana da Índia, instrumentos da pedagogia autoritária do professor Neves ( de positiva e saudosa memória).
Sol ainda escondido, com vento, frio ou neve, lá vinham, diariamente, da Presa e do Fojo, os dois companheiros em busca do futuro: o Quim Zé Corista e o Ismael. E quando fiz o exame de quarta, levado ao Sabugal pela arrastadeira do Sr. Quim Paiva, nesse dia gravou-se o meu destino. Numa classe de quinze alunos, o Ismael franzino fizera o exame; regressávamos ao Casteleiro e o condutor (Quim Paiva) virou-se para o meu pai e disse:
“ Ó Jaquim, manda o garoto estudar!
- Não tenho posses!
- Mete-o no Seminário.
E deste breve diálogo resultou o meu futuro. Passado um ano, entrei no Seminário de Santarém, onde já estudavam os meus primos António e Alberto. Três anos em Santarém, três em Almada, mais seis nos Olivais e em 15 de Agosto de 1964, fui ordenado sacerdote pelo cardeal Cerejeira.
Retornando sempre ao Casteleiro nos três momentos de férias, Natal, Páscoa e Verão, aí fui formando a minha personalidade na convivência directa com os meus familiares, outros estudantes e demais conterrâneos. Seminarista esforçado, filho colaborador, jovem ambicioso e atleta, cidadão preocupado com os dramas da vida, sonhando sempre com a libertação da pobreza, da ignorância e da opressão.
Relembro as minhas vivências mais marcantes: as meditações e muitas leituras nas escadas do coro da Igreja; o meu longo circuito, quase diário, desde a aldeia, pelas barreiras da Bica até ao Prado, descendo, depois do almoço frugal, pelo Fojo até à Carrola para fazer a rega, e completando o longo trajecto com uma enérgica futebolada no Campo da Padaria. E depois nas noites cálidas de Agosto, passeando pela estrada fora até à ponte, em diálogo cultural com o Toninho Rosa a quem devo a iniciação na leitura da Mensagem de Fernando Pessoa, ou então conversando sobre o quotidiano com grupos ocasionais reunidos no cantinho do Quim Paiva. Toninho Rosa, Neca, Alberto, Norberto Azevedo, Ismael, Quim Paiva e Manuel Guerra e outros…
Volto ao Casteleiro duas, tês vezes por ano. Lá encontro ainda os primos Antónia, Alberto, Maria de Lurdes, Joaquim Diogo.
Felicito os conterrâneos que escrevem textos interessantíssimos no blogue “ Viver Casteleiro”: o Zé Carlos Mendes, a Dulcinha, o Quim Gouveia, o Daniel Machado, e outros que já não conheço.
Encorajo a Junta de Freguesia a prosseguir no trabalho notável que vem fazendo de responder, com serviços oportunos, às necessidades dos cidadãos: o pagamento da água, da luz e do telefone, o recebimento das reformas, a animação da aldeia com iniciativas cheias de criatividade. Festas populares tradicionais, festa da Caça, passeios equestres (e por que não terrestres … com itinerários tão belos!).
Saúdo as direcções do Lar de S. Salvador e do Centro de Animação Cultural pela eficácia do seu trabalho e pela sua louvável luta contra o despovoamento.
Um abraço muito sentido para os primos Tó Zé Marques (Sr. Presidente) e Carlitos (Sr. Secretário), pelo trabalho solidário realizado na Junta, não esquecendo a competência e sabedoria do Vitorino Fortuna.
Continuarei a regressar em busca da minha matriz geográfica, familiar, humana, o meu passado… ao Casteleiro!


Igreja Nova - Mafra, em 12 de Março de 2011
Ismael Nabais Gonçalves

Foto do Dia


Hoje, domingo, no canal do Regadio da Cova da Beira, a poucos metros do cruzamento para o caminho da Presa, mais um corso que depois da queda não conseguiu sair acabando por sucumbir. Chamada ao local, a GNR da Guarda transportou o animal para o Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais Selvagens (CERVAS), em Gouveia.

08/03/2011

Tuna Universitária anima Lar do Casteleiro








































A “Desertuna”, Tuna Universitária da Beira Interior, proporcionou hoje uma Terça-Feira de Carnaval diferente aos utentes do Lar de São Salvador do Casteleiro. Muita música e animação quebraram a rotina em ambiente festivo.

07/03/2011

Uvas do Casteleiro vencem Festival do Vinho




As uvas do Casteleiro deram origem aos vinhos classificados em 1º e 2º lugar no 1º Festival do Vinho Novo do Sabugal, uma iniciativa do jornal “Cinco Quinas” que decorreu no salão da Junta de Freguesia do Sabugal no domingo de Carnaval.
Perto de oitenta vinhos de diferentes produtores apresentaram-se a concurso para serem apreciados em dois grupos de acordo com a origem: oriundos das Terras Frias e das Terras Quentes.
Com origem nas Terras Quentes classificou-se em primeiro lugar um produtor de Ruivós que adquiriu as uvas no Casteleiro e, em segundo lugar, o nosso conterrâneo José Manuel Gonçalves com uma produção partilhada com o seu irmão Carlos Gonçalves. O terceiro lugar foi atribuído a um produtor de Santo Estevão.
Mais uma vez, o afamado vinho do Casteleiro provou que, no Concelho do Sabugal, não tem rival!


Testamento do Galo anima Entrudo























Mais uma vez, a tradição cumpriu-se! No domingo gordo voltou a ouvir-se o “Testamento do Galo” nas ruas do Casteleiro. Depois de uma primeira leitura no Lar de São Salvador, os jovens casteleirenses juntaram-se no Largo de S. Francisco, leram o Testamento e, no final, ofereceram o Galo à Professora Rosa.

Foto da Semana


Sandra Fortuna, Vereadora da Câmara do Sabugal, no passado dia 4, em Badamalos, por ocasião da assinatura de protocolos com freguesias do Distrito, com a presença do Secretário de Estado da Administração Local, José Junqueiro.

06/03/2011

Hoje é Domingo Gordo

Não um domingo qualquer, este é o último domingo antes da Quaresma, pelo que, além de ser dia de folia, era dia de comer determinadas iguarias fornecidos pelo, com sua licença, o porco.
Depois da matança do porco que, geralmente ocorria por alturas do Natal, uma vez feito o enchido que embelezava o fumeiro, que secava junto ao caniço, as carnes mais gordas, juntamente com os ossos e os presuntos, eram guardados na salgadeira (arca com sal, normalmente em madeira – um conheço uma, totalmente esculpida em pedra com excepção, claro está, da tampa), donde eram tirados ao longo do ano, e geridos, regradamente, à medida das necessidades imperiosas.
Da água da cozedura dos ossos, repleta de gordura, juntamente com miolo de trigo e outros ingredientes eram feitos os farinheiros. Tal como a matança, a cozedura dos ossos era um ritual marcadamente familiar.
Enquanto os presuntos continuavam a repousar e “a tomar do sal”, na dita salgadeira, para o almoço de domingo gordo, eram guardadas determinadas carnes, que neste dia tinham um sabor especial. Refiro-me concretamente às orelhas, focinho, chispes e a cauda do dito animal.
Imaginem o quanto saboroso seriam todas estas carnes (bem, do sal, nem quero falar...), comidas no seu dia certo! Imaginem, se conseguirem, há quanto tempo eram desejadas…e já agora, quantas vezes seriam necessárias?
Tudo isto para explicar que o domingo que antecede o Entrudo, ao longo dos tempos, foi sempre carregado de fortes tradições religiosas, gastronómicas mas também com “foliões típicos” da nossa aldeia, à mistura.
Até porque a seguir ao Entrudo vinha a Quaresma que ditava forte rigor no jejum e abstinência. Daí que, nada melhor do que saciar bem o corpo. Quarta feira de cinzas – dia a seguir ao Entrudo, começava o rigor das leis religiosas…Nunca me esquecerei da frase que o senhor padre dizia na, quase sempre fria missa, dita na manhã desta quarta feira:”lembra-te ó homem que és pó e em pó te hás-de tornar” - ao mesmo tempo que fazia uma cruz, com cinza, sobre as nossas cabeças que até ficava todo arrepiado!
Tradições de outros tempos, que neste domingo gordo trago à vossa memória.
E, porque não, no próximo ano, o Centro de Animação Cultural proporcionar a todos os casteleirenses um almoço gastronómico a fazer lembrar os “velhos tempos”? Pensem nisso!
Aqui fica o desafio.

Bom Entrudo!


"A Minha Rua", espaço de opinião de autoria de Joaquim Gouveia

02/03/2011

O Barroco Riscado e outras estórias de antanho

Estas são estórias de antanho, contos com que os nossos avós deliciavam a nossa meninice. Eles contavam – acho que as mesmas historietas – vezes sem conta e nós sempre encantados e no final sempre a mesma reacção:
- Ahh!
No pós-guerra, na nossa terra, não era o crescimento nem o desenvolvimento que marcavam território. Não. O que predominava era a superstição e os mitos.
Um desses mitos passava sempre por mouras encantadas, de que dou um exemplo aí adiante.
E eram muitas as superstições.
Só dois exemplos.
O ladrar «aflito» dos cães em noite de invernia – significava para muitos o anúncio da morte de alguém na aldeia.
A “Quinta da Senhora” era então um pequeno «latifúndio» da nossa zona com casa senhorial – não pela arquitectura mas pela dominação. Tinha lá sempre pavões. Pois havia a superstição de que o grito «de dor» dos pavões da “Quinta da Senhora” à noite significava também a morte de alguém. Ainda hoje, quando penso nesse grito lancinante que atravessava a noite me arrepio todo…

Havia também, claro, os mitos e as lendas da terra. Tinha de ser. Havia muitas naquele tempo. Uma espécie de literatura do maravilhoso infantil, que sempre me maravilhou. Só que os adultos é que acreditavam nelas antes de nós.



Algumas delas tinham a ver com um misterioso rochedo, o «Barroco Riscado».
Por exemplo, a das mouras encantadas.
As mouras encantadas dançavam e faziam as suas festas de comezaina em cima do «Barroco Riscado». É um grande rochedo da serra ao lado da Serra da Vila. Fui lá acima, andei em cima dele uma única vez, na adolescência: o local era tido como semi-misterioso e dado a feitiçarias. O «barroco» tem lá em cima umas poças – seguramente feitas pela erosão dos ventos e da água das fortes chuvadas. As poças são muito redondinhas. Parecem de facto pratos feitos de granito… A lenda que nos contavam dizia que era nesses pratos que as mouras encantadas comiam nas suas festas de feitiçaria…
Contavam-nos isto com o ar mais sério do mundo e muito acontecidos, como então se dizia: muito compenetrados da verdade absoluta da estória.
E nós, boquiabertos:
- Ahh!
Outra estória sobre o mesmo barroco põe o rochedo a «falar»:
- Obrigado a quem me virou – disse o barroco…

De facto, sobre o mesmo barroco contava-se mais uma história de encantar a pequenada toda.
Um dia, há muitos, muitos anos, uns homens que andavam na serra com os gados viram lá umas palavras escritas no barroco.
Um deles sabia ler e leu:
- Quem para o outro lado me virar
Grande tesouro há-de encontrar.
Voltaram-no.
E por baixo, do lado que agora estava para cima, o que leu o mesmo pastor?
- Bem-haja quem me virou
Que há tantos anos deste lado estou.
E nós, maravilhados:
- Ahh!

O pote de ouro
Contava-se ainda na nossa terra que uma das famílias mais ricas tinha chegado à riqueza de uma forma bem estranha: um dia, havia muito tempo, o patriarca da família tinha encontrado uma moura encantada que lhe dissera para «procurar» que «encontrava».
Nem onde nem o quê: apenas «procurar e encontrar».
Procurou e encontrou: havia um pote cheio de moedas de ouro enterradas debaixo do «balcão» (escadaria de pedra de acesso exterior à casa). Mas apanhou um susto antes de chegar às moedas. Porquê? Porque o pote estava guardado por uma serpente gigantesca que estava enrolada ao pote de barro antigo. Então, o dito patriarca daquela família foi buscar uma arma e… matou a serpente. E pronto: ficou com as moedas e ficaram todos ricos.
E nós, admirados e encantados:
- Ahh!



"Memória", espaço de opinião de autoria de José Carlos Mendes