13/04/2011

Volfâmio, as minhas lembranças

Lembro-me do minério negro e ainda húmido, a secar sobre um tolde em minha casa, à espera de comprador. Tinha sido extraído em Gralhais, naquela a que chamavam a vala rica. Era dado este nome à dita vala, por ter uma quantidade de minério superior ao normal e também por aparecerem juntamente com o volfrâmio, pequeninas pipetas de ouro. O volfrâmio naquela época não me interessava muito, mas o ouro sim. Era bastante atractivo, apesar dos meus seis ou sete anos. Catava então as pequenas pipetas, que juntava numa caixa até encontrar comprador. A concorrência para a comercialização naquela altura não era muita, mas acabava por aparecer um judeu de Belmonte, que era o mesmo que comprava as peles dos borregos, e os “cornachos” extraídos dos cereais. Havia então que negociar com o judeu, embora o negócio não fosse propriamente renhido. Dava cinco tostões ou dez, depois de algum adulto dizer que era muito pouco, que tinha que dar mais alguma coisa.

Acontecia que todo o minério extraído tinha que ser declarado, o que nem sempre acontecia. Recordo-me então de vir do Sabugal a GNR investigar e levar todo o minério que encontrou na aldeia, inclusivamente o do meu pai, Manuel Guerra e do meu tio, Manuel Machado. Acontece, porém, que quem o comercializava e por conseguinte tinha sempre maior quantidade, era o Joaquim Soares, a quem não foi apreendido sequer um punhado. Gerou-se então uma grande confusão na aldeia. Pensavam que só podia ter sido suborno, ou que ele próprio tivesse denunciado os outros. Ali havia gato, pensavam. Mas afinal não havia. O que aconteceu foi que os Agentes da GNR foram almoçar a uma tasca no Sabugal, então a empregada, uma tal Trindade, que era do Casteleiro, ouviu a conversa e contou ao dito comerciante Joaquim Soares que estava programada uma acção de fiscalização para aquele dia, pelo que ele fez de imediato desaparecer todo o volfrâmio que tinha na sua posse.

Cada um vivia à sua maneira o dinheiro resultante do volfrâmio, mas era certo e sabido que todos os Domingos havia baile no terreiro de S. Francisco. Com o baile e o vinho, era certa a zaragata. Umas vezes porque os dois queriam dançar com a mesma rapariga, outras porque tinham que defender a honra, e a melhor maneira de o fazerem era à pancada.
Então num desses Domingos exageraram na zaragata. Um deles ficou caído no chão sem se levantar. Julgavam-no morto e houve alguém que telefonou para a GNR. Os agentes chegaram e perguntaram onde está o morto? Levanta-se então do chão o dito morto e responde, sou eu Sr Guarda.

Texto de autoria de Maria do Nascimento Guerra Soares

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