30/05/2014

À conversa com...Edite Fonseca

No próximo dia 21 de Junho, no Sabugal, e dia 22 no Casteleiro, a casteleirense Edite Fonseca apresenta o seu livro “Kassandra, uma infância tumultuosa”. O “Viver Casteleiro”, como prometido, esteve à fala com esta nossa conterrânea.



-Especialmente para os leitores do “Viver Casteleiro”, diga-nos quem é a Edite Fonseca? Quais as ligações a esta nossa aldeia?

Edite Fonseca é uma jovem mulher nascida e criada nos arredores da aldeia de Casteleiro, na Quinta da Carrola, onde a minha infância sempre foi muito intensa. Mal comecei a andar já seguia os meus irmãos para todos os sítios. Os lugares que eu preferia eram os campos de centeio onde corríamos e devido às nossas travessuras eramos frequentemente repreendidos pelo meu pai. Os campos de flores, os barrocos que galgávamos ainda jovens. O chilrear dos passarinhos, o voo apressado de inúmeros insectos tais como as borboletas e o cheiro agradável que imanava das flores e restantes plantas campestres. A paisagem bucólica de maior beleza e que reina na minha memória são os campos cheirosos e floridos da minha terra, a aldeia de Casteleiro e a Quinta da Carrola, na ocorrência a aldeia de “Saudade” e a “Quinta de Acerola” como são designadas na minha obra. Um misto de real e fantasia e onde ambos se confundem por vezes. 
-A infância numa pequena aldeia, como a nossa, é recordada por muitos como momentos inesquecíveis, normalmente de felicidade. A infância de “Kassandra” foi tumultuosa.  E os sonhos de menina? Quais eram os seus sonhos?
Se descrevesse todos os sonhos de criança ficaria aqui ao longo de múltiplas horas. (risos) Sempre fui muito sonhadora e continuo a sê-lo. Penso que li muitas vezes o poema Pedra Filosofal de António Gedeão. O sonho sempre foi uma constante na minha vida e penso que foram os mesmos que me permitiram de evoluir. Sonhava um dia tornar-me jornalista e tal aconteceu. Viajar pelo mundo e conhecer novas culturas, dar aulas a crianças pois sinto-me de algum modo muito ligada a crianças e claro encontrar um marido decente, casar-me e ter filhos. Mas esse sonho ainda não foi concretizado… Aquela menina que um dia andou descalça ainda sonha com o príncipe encantado e está certa que um dia este cruzará o seu caminho. Os filhos virão por acréscimo, afinal…Não é esse o desejo de todas as crianças ao crescerem? Um lar, um marido e diversos filhos a abençoarem a união?

-Um dia partiu. Novas terras, novas gentes. As ruas, os recantos, os cheiros do Casteleiro estiveram presentes? Ainda estão?
Esteja eu onde estiver a minha aldeia e quinta vão sempre acompanhar-me. Não posso apagar as doces lembranças da minha terra e tal não desejo. Porque a minha personalidade é constituída por experiências vividas naquela incomparável terra da Beira Alta. Por exemplo… Como esquecer os Natais passados na aldeia juntos dos demais habitantes e sobretudo dos serões passados à volta do madeiro? O saltar à fogueira na qual se queimavam os rosmaninhos, os magustos, as Janeiras que cantarolávamos defronte das moradias da aldeia afim de recebermos algumas recompensas. Estas e muitas mais vivências enchem o meu coração de alegria porque as vivi. Mas ao mesmo tempo tristeza porque actualmente estou longe demais para participar á sua realização. Tratam-se de tradições sãs e que deveríamos fazer perdurar por longos anos. Também as pessoas simples, os habitantes da aldeia, me deixam SAUDADE. Frequentemente sou invadida por sentimentos como a nostalgia. Porque "ninguém é igual a ninguém" e deste modo as pessoas que me rodeiam não podem substituir os que um dia passaram e fizeram parte da minha vida.
- Hoje mulher adulta, por onde tem andado a Edite? Que caminhos tem trilhado?
Tenho andado com a casa às costas! Pareço uma tartaruga que carrega sempre a carapaça com ela. Casteleiro, Cerdeira, Covilhã, Portalegre, Lisboa, Thonon-les-Bains, Paris, Londres, e novamente Paris. Sem contar as vezes em que fiquei um ou dois meses no estrangeiro a trabalho ou a lazer. Tenho tido a sorte de viajar imenso, EUA inúmeras vezes, Caraíbas, Emiratos Árabes, diversos países europeus… De todos os lugares visitados confesso que prefiro o nosso velho continente, pois nele me sinto “em casa” e segura. Não pertenço a uma nação, mas sim a um continente com história, a Europa.

 -Surpreende-nos agora com um livro. Como surgiu a escrita na sua vida?
Escrever é um meio de exprimir o que me vai na alma. Quando vivia em Londres tinha diversos amigos tremendos. Daqueles que quando precisamos de carinho, ternura e de amor estão de braços abertos para nos receber e saciar a nossa “fome” de sentimentos nobres. Naquela cidade o tempo para escrever era escasso. De regresso a Paris, tinha mais disponibilidade e uma vontade enorme de contar aos outros o que experienciei, as vivências existentes no mais profundo do meu ser.
Desejava partilhar a minha luta com inúmeras pessoas, dar-lhes coragem para a sua luta. Eu sempre lutei e continuarei. Nunca irei baixar os braços, só quando a morte me levar.
Ia escrevendo e narrando a minha história. Mais escrevia mais tinha vontade de revelar aos leitores. E assim ficou uma obra de mais de 500 páginas.  
Mas o gosto pela escrita sempre coabitou em mim juntamente com outros pontos de interesse tais como o jornalismo e a poesia.  

-O título deste livro sugere-nos algo de autobiográfico. Existiu uma “Cassandra” na mitologia grega”.  Mas a “Kassandra” parece-me bem real.  Porquê este nome?

Longe de mim ter a pretensão de ser uma deusa. Sou uma mulher de carne e osso com as minhas qualidades e os meus defeitos. Gosto do meu nome, mas nem sempre foi assim. Aquando de pequena imaginava um mundo diferente daquele onde vivia, se calhar um mundo perfeito como aqueles das telenovelas brasileiras que via na televisão. Quem sabe…chamar-me Kassandra. Por esse motivo e tantos outros decidi chamar Kassandra à minha personagem central. Um nome penso que um tanto Americanizado e quem sabe… com um certo gosto a Hollywood. Significa “para brilhar” e é o que eu quero para a minha obra. O meu livro tratasse de um primeiro “bebé” para o qual anseio o maior sucesso do mundo.
- Penso que todos os casteleirenses estão curiosos em ler esta sua obra. O que lhes pode revelar?
Revelar mais??? Mas não tenho feito outra coisa ao longo desta entrevista!!! (Risos)
Têm de ler para crer! Vão se rever nas minhas aventuras e desventuras. Ter vontade de ler o livro e reler sem parar! O riso e o choro vão se confundir muitas vezes. Vão sair da obra mais fortes e com vontade de lutarem por aquilo que mais desejam, pelos ideais que cada um possuí. Mais que uma obra trata-se de um incentivo aos leitores e uma narração de história incríveis que por vezes magoam.


-Porquê ter designado a aldeia do Casteleiro de "Saudade"?
Saudade, aquela palavrinha que revela em nós sentimentos aliados à ausência de alguém. Que constantemente machuca e fere o nosso coração. Saudade é o que sinto em relação às pessoas, aos usos e costumes, às tradições, à excelente gastronomia portuguesa, ao clima e ao saber fazer de um valente povo que é o nosso!
É pura a saudade que me invade quando estou ausente do meu país! Emigrada há diversos anos quis através do nome fictício dado à minha aldeia homenagear as gentes daquela terra e o pitoresco cenário de suas ruas singelas, de casas simples que felizmente foram o meu cenário durante longos anos. Dado que é a saudade que invade o meu coração vamos dar asas a nossa imaginação e deixar-nos transportar para o universo da pequena Kassandra. Uma vivência com cheiro a plantas, a terra fértil e a "Saudade"!

- E projectos? Como vê o seu amanhã? Como mulher e escritora…
Novos livros vêm a caminho… E, confesso que tenho vontade de regressar às origens. Alcançar uma vida diferente. Onde a pacatez e as coisas simples da vida fazem toda a diferença. Mas para tal têm de haver condições e até ao momento ainda não estão todas reunidas. Mas sim… como disse gostaria de viver no campo, montar a cavalo com frequência e viver do trabalho de autora. Não é isso que todos os escritores desejam? Mas para isso é preciso ter muito mérito pois são raros os autores que vivem da actividade literária. Gostava de ter a sorte de ser uma dessas autoras e de um dia ser comprada e relembrada juntos dos restantes nomes da literatura portuguesa, tais como Eça de Queirós, Júlio Dinis, Fernando Pessoa, etc.
Como mulher… Releguemos esse papel para mais tarde…

-Dia 22 de Junho vai estar no Casteleiro. Como antevê esse momento? Será tumultuoso? Sereno? 
Creio que será tumultuoso… Tudo o que eu faço é tão impulsivo e cheio de energia que não poderia ser de outra forma. De serena tenho pouco. Sou mesmo uma mulher em fogo!!! A minha cabeça está sempre a 1000! Com ideias novas que circulam em mim! As pessoas vão falar e vão discutir acerca da minha obra e é isso que eu pretendo… Falar e dar que falar.

António José Marques

26/05/2014

Quem se lembra?

O Burro de cangalhas
Esta imagem representa uma época não muito distante dos nossos dias mas, o suficiente, para que a juventude de hoje não tenha disso recordação.
Animal modesto, meigo, de olhar doce e andar pachorrento. Na nossa aldeia, ele fazia parte de quase todos os agregados familiares. Num tempo em que todas as famílias expurgavam da terra o máximo que esta lhes podia dar, o burro assumia um papel importantíssimo: transportava bens e pessoas e ainda, como força motriz para puxar a nora, tirando a água do poço para a rega da horta.
Será interessante dar a conhecer o “equipamento” com que este asno se apresenta: Sobre a cabeça, exibe o «cabresto» – feito de cabedal e, juntamente com a «rédea» (corda de sisal) servem para o homem o guiar, ou simplesmente o prender a uma árvore ou num local onde possa pastar. Sobre o dorso ostenta uma «albarda», feita de cabedal (à frente e atrás) e pano-cru, cheio de palha muito bem acomodada de modo a constituir um assento bem cómodo para que o dono se sinta bem, quando caminha de casa até ao chão. Para segurar a «albarda» utiliza-se uma «silha», em forma de cinto, apertando esta, à barriga do animal. As «cangalhas» (na figura) assentavam sobre a «albarda». Considerado um assessório de grande utilidade, serviam para transportar o estrume, e outros bens. Sim, porque não havia os tratores que hoje há!...
Acrescento ainda o «burnil» (a gravata do burro), feito de cabedal e pano-cru, e, uma vez colocado sobre o pescoço do animal e com a extensão de umas cordas, servia para atrelar o arado ou a «nora».
Todos estes «arreios» eram feitos por medida, por um «albardeiro» que, de tempos a tempos, deslocava-se de terra em terra, fazem arranjos nas «albardas» usadas e tirando as medidas para as encomendas que mais tarde haveria de fazer. Normalmente estas entregas eram feitas ao domingo, logo pela manhã e, diz-nos quem sabe, que as «albardas» custavam um dinheirão!
O último «albardeiro» visto pelo Casteleiro, vinha de Stº Estêvão. Era conhecedor de uma arte rara! Por vezes as «albardas» estavam a necessitar de arranjo e o «albardeiro» não havia maneira de aparecer!...Hoje é considerada uma das profissões já extinta!


NOTA: O negócio dos burros geralmente estava nas mãos dos ciganos. Quando o comprador tentava fazer negócio, o animal apresentava-se na melhor forma. O pior era nos dias seguintes!...






"A Minha Rua", Joaquim Luís Gouveia

Europeias - PS vence no Casteleiro



21/05/2014

KASSANDRA, uma infância tumultuosa



“Kassandra, uma infância tumultuosa” é o título do primeiro livro da nossa conterrânea Edite Fonseca. A obra terá o seu lançamento no próximo dia 21 de Junho, às 16 horas, no Auditório Municipal do Sabugal e, no dia seguinte, às 15 horas, no Casteleiro. O “Viver Casteleiro” publicará, nos próximos dias, uma entrevista com a autora que nos irá revelar um pouco sobre a obra.





15/05/2014

Linhaça - 5 mil anos A.C.


 
No 'post' de hoje quero falar-vos da linhaça tão consumida hoje no pão, bolos e flocos de cereais, mas em tempos antigos guardadas religiosamente pelas nossas avós para combater o inchaço, reumatismo, artrose, etc.
Como curiosidade, a semente do linho também conhecida como linhaça, remonta a milhares de anos antes de Cristo (5 mil A.C.)!!!
À semelhança do que tem acontecido com outros usos e costumes do Casteleiro, fui algumas idosas do Lar e Centro de Dia local, que se deliciam a falar destas coisas, as suas mães e avós costumavam aplicar sementes quentes, no local desejado, de manhã e à noite. Mas afinal, como faziam para aquecer a linhaça? Perguntei. 
Numa malga/tigela com água quente (preferível a ferver) colocavam 2 ou 3 colheres de sopa de sementes. Depois colocavam esta papa num lenço ou pano limpo, dobrado para conservar o calor; depois deixavam arrefecer um pouco e aplicavam o emplastro, na cara, no joelho, perna ou pé.
A linhaça além de combater o inchaço serve, ainda, para reduzir o colesterol, diminuir peso, melhorar o funcionamento do intestino, regular a pressão arterial, etc.
Para a Ti Graça e Ti Zabel (nomes fictícios) a linhaça foi sempre muito usada na “cura de muitos males: maçadelas nos pés, frúnculos, espinhas (não de peixe, mas qualquer coisa que se espetasse no pé, mão, braço…Era remédio santo!
“Hoje em dia é que há remédio para (quase) tudo” – diz a Ti Zabel, soltando uma rasgada gargalhada.
 





"A Minha Rua", Joaquim Luís Gouveia



14/05/2014

Uma Obra em Marcha


Terminado o Inverno, é tempo de regressar ao arranjo dos caminhos rurais da Aldeia. Desta vez um longo troço de um caminho na Ribeira da Cal foi totalmente reconstruído e alargado. Um caminho finalmente transitável e solucionado o escoamento de águas.


05/05/2014

O Linho – Da sementeira à toalha de mesa

Para quem, como eu, nasceu e cresceu na aldeia já ouviu falar com certeza, numa cultura que desapareceu por completo, das produtivas baixas do Casteleiro – o linho. Na tentativa de recuperar todo o processo, desde o seu cultivo até aos bonitos panos ou toalhas, que em dias festivos tornavam a mesa da sala de jantar mais composta, fomos ouvir pessoas idosas que, desde muito jovens, sabiam manusear muito bem todos os artefactos usados no cuidadoso trabalho de preparação dos fios que, mais tarde, serviriam de matéria prima a verdadeiras obras de arte.












Tudo começava pela sementeira, em terrenos húmidos, que acontecia entre Março e Abril. Três meses depois estava pronto para arrancar e começar uma série de operações até obter o tecido do linho.
Depois de arrancado, com raiz e tudo, era ripado no ripanço e levado em molhos para a ribeira onde permanecia, enterrado na água, cerca de duas semanas.
A seguir era levado para casa, onde era batido durante muito tempo, com um maço, esfregado sobre uma pedra de modo a tirar-lhe a casca rija. Uma vez em casa, o linho era tascado no cortiço com uma espadela.
No cedeiro era separado o linho mais fino do mais grosseiro – a estopa, usada na confeção de sacos.
O linho fino era então fiado com roca adequada. As mulheres punham-no na roca para depois o puxarem com os dedos, molhando-o, lambendo os dedos e dele fazerem fios, enrolando-os no fuso. Desta operação resultavam as maçarocas que eram postas no sarilho dando origem às “meadas”.  
Para branquear o linho, faziam-se as “barrelas” em água a ferver com cinza numa panela de ferro, até o linho amolecer, passando, de imediato, à dobadoira para fazer os novelos que vão ao tear, donde sai o pano, que depois de corado alguns dias ao sol, dava origem a várias utilidades para a casa ou mesmo para peças de roupa.












Os teares eram, também, peças-chave do processo, indispensáveis a quem, tendo linho, queria então fazer lençóis, toalhas, panos para tapar as cestas e tabuleiros, camisas.
Aqui fica o registo de mais uma atividade que, durante muitos anos, ocupou as famílias casteleirenses.

Por mim, sinto-me mais enriquecido, mas com uma forte vontade de continuar a percorrer este caminho na busca de outros apontamentos que ilustrem as vivências de um povo que dedicou uma vida inteira à terra, de onde retirou, sempre, o sustento para os seus filhos. Oxalá aconteça o mesmo consigo, caro leitor!






"A Minha Rua", Joaquim Luís Gouveia



02/05/2014

Dia da Mãe


Com o Dia da Mãe, a celebrar-se no primeiro Domingo de Maio, que este ano decorrerá no dia 4 de Maio, não esqueçamos, neste dia, a nossa mãe, porque “Mãe há só uma e mais nenhuma.”
Esta é a verdade, verdadinha que ninguém a poderá escamotear, contestar, negar e muito menos aceitar que a nossa mãe seja destituída, olvidada, que deixe de ser mãe, quer seja boa ou má mãe.
Se o cordão umbilical jamais será separação maternal, com o após a morte ela é e será sempre mãe, cujo nome não poderá ser atribuído a quem quer que seja que não seja a verdadeira mãe.
Sendo nela que corre o sangue do seu filho e nele o sangue da sua mãe, este binómio inseparável de mãe e filho jamais se apagará e deixará de ser, haja o que houver.
Amemos e honremos, pois, a nossa mãe que, antes de nascermos, já nos ansiava e amava; que nos gerou com amor, dores e lágrimas; que as dores do parto esqueceu ao ver-nos pela primeira vez, enfim, que nos criou e educou com carinho, amor e sacrifícios, por certo.
Amando-a, respeitando-a, estimando-a e honrando-a, se ainda temos a dita de a possuirmos, é, por tudo isto, a melhor prenda que lhe poderemos oferecer, em especial, neste dia, e, se do reino dos vivos já partiu, com uma lágrima de amor e saudade, recordemo-la, na certeza de que, no etéreo descanso, ela continuará a velar por nós e a amar-nos ainda.
Sendo assim, digo e repito que “Mãe há só uma e mais nenhuma”.
 

 
 
 
Daniel Machado