06/03/2011

Hoje é Domingo Gordo

Não um domingo qualquer, este é o último domingo antes da Quaresma, pelo que, além de ser dia de folia, era dia de comer determinadas iguarias fornecidos pelo, com sua licença, o porco.
Depois da matança do porco que, geralmente ocorria por alturas do Natal, uma vez feito o enchido que embelezava o fumeiro, que secava junto ao caniço, as carnes mais gordas, juntamente com os ossos e os presuntos, eram guardados na salgadeira (arca com sal, normalmente em madeira – um conheço uma, totalmente esculpida em pedra com excepção, claro está, da tampa), donde eram tirados ao longo do ano, e geridos, regradamente, à medida das necessidades imperiosas.
Da água da cozedura dos ossos, repleta de gordura, juntamente com miolo de trigo e outros ingredientes eram feitos os farinheiros. Tal como a matança, a cozedura dos ossos era um ritual marcadamente familiar.
Enquanto os presuntos continuavam a repousar e “a tomar do sal”, na dita salgadeira, para o almoço de domingo gordo, eram guardadas determinadas carnes, que neste dia tinham um sabor especial. Refiro-me concretamente às orelhas, focinho, chispes e a cauda do dito animal.
Imaginem o quanto saboroso seriam todas estas carnes (bem, do sal, nem quero falar...), comidas no seu dia certo! Imaginem, se conseguirem, há quanto tempo eram desejadas…e já agora, quantas vezes seriam necessárias?
Tudo isto para explicar que o domingo que antecede o Entrudo, ao longo dos tempos, foi sempre carregado de fortes tradições religiosas, gastronómicas mas também com “foliões típicos” da nossa aldeia, à mistura.
Até porque a seguir ao Entrudo vinha a Quaresma que ditava forte rigor no jejum e abstinência. Daí que, nada melhor do que saciar bem o corpo. Quarta feira de cinzas – dia a seguir ao Entrudo, começava o rigor das leis religiosas…Nunca me esquecerei da frase que o senhor padre dizia na, quase sempre fria missa, dita na manhã desta quarta feira:”lembra-te ó homem que és pó e em pó te hás-de tornar” - ao mesmo tempo que fazia uma cruz, com cinza, sobre as nossas cabeças que até ficava todo arrepiado!
Tradições de outros tempos, que neste domingo gordo trago à vossa memória.
E, porque não, no próximo ano, o Centro de Animação Cultural proporcionar a todos os casteleirenses um almoço gastronómico a fazer lembrar os “velhos tempos”? Pensem nisso!
Aqui fica o desafio.

Bom Entrudo!


"A Minha Rua", espaço de opinião de autoria de Joaquim Gouveia

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