15/03/2011

D. Aurora, uma professora de muito má memória


Veio do Marmeleiro, que era a sua terra natal.
Era ainda solteira e casou na nossa terra.
Oiço a história dela desde criança.
Mas nunca tive disponibilidade para contar estas tristes cenas.
Vai ser hoje.
Estava-se nos anos no início dos anos 30 do século XX.
Mais propriamente, em 1932/33.
Foi colocada no Casteleiro uma professora terrível que fez muito mal às raparigas.
Tanto que, nos oito ou nove anos em que esteve na nossa terra a dar aulas, apenas quatro raparigas fizeram a 4ª classe – as outras, todas, ficaram pelo caminho, na segunda ou na terceira classe e daí nunca passaram.
Fazer a 4ª classe nesse tempo era coisa séria e tinha muito valor.
A D. Aurora (mais tarde Aurora Carrilho, porque casou com o Professor Carrilho) era de tal calibre que muitas crianças ficaram assinaladas fisicamente – para lá da tortura psicológica de terem de ir às aulas daquela carrasca. Batia sem dó nem piedade. Feria e marcava as raparigas.
A escola dos rapazes era onde agora funciona o Centro Médico. A das raparigas era do outro lado da estrada, quase em frente.
Nessa altura, o sino tocava quatro badaladas para início das aulas. A esse toque, as crianças tinham um baque no estômago. Umas choravam. Outras vomitavam. Outras berravam e fugiam. Outras iam para a varanda a chorar desnorteadas. Outras ficavam tão nervosas que, se estivessem a comer, até deixavam cair a colher.
Uma desgraça.
Uma das poucas crianças que conseguiram fazer a 4ª classe, ela, a D. Aurora, levou-a a exame ao Sabugal com um braço partido – que ela lhe tinha partido à tareia.
A outra, partiu-lhe uma pedra de escrever na cabeça e teve de levar «cinco agrafes».
Mas um dia a coisa podia ter dado mau resultado: as mães das crianças revoltaram-se de tal modo que foram à escola onde a professora até tinha deixado as raparigas fechadas – esqueceu-se delas… e ameaçaram tratar-lhe da saúde, de tal modo já estavam fartas dela.
E isso, não esquecer, em anos duros com a ditadura a dar os primeiros passos.
Antes desta besta desta professora, no entanto, esteve a dar a primária no Casteleiro uma professora chamada D. Estrela. Não batia. Tratava muitas vezes as alunas por filhas. Imaginem a surpresa e o pânico das mesmas crianças quando, na segunda e na terceira classe apanham aquela «algoz» daquela D. Aurora.
Diga-se que com a D. Estrela e, antes dela, com a D. Gracinda, mulher do Sr. Firmino (comerciante), houve muitas crianças com a 4ª classe feita com distinção.
Mesmo que os castigos físicos fossem uma regra destas épocas terríveis.
Agora… Donas Auroras, nunca mais!






"Memória", espaço de opinião de autoria de José Carlos Mendes

4 comentários :

  1. merci pour toutes ses photos
    que de bon souvenir c'est agreable de voir le village de mes vacances quand ont venaient avec nos grand parent
    merci encore
    a bientot
    je suis la petite fille de manuel moita et de laurentina de jesus lopes qui sont tous deux décédé cousine lointaine de albertino lopes.

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  2. e eu que pensava que antigamente a escola masculina era na escola primaria......

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  3. Também fui da Escola dita Tradicional, não se falava na aprendizagem, mas sim do ensino...acto de ensinar...ou a bem..ou então à pancada (reguadas, varadas na cabeça, do cabeça de burro, do anormal que não aprendes...), imagine-se isto em crianças que se estavam a começar a descobrir, levavam logo com estes traumas, dizia-se...para aprender...
    Bem, diga-se de verdade... sou a favor do rigor, do trabalho, repugno o facilitismo...Mas sou muito a favor da interacção e do professor como facilitador da aprendizagem...
    Continuação de BONS ESCRITOS. AGil

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  4. Para quando um artigozinho teu, sobre a suspensão da avaliação dos professores?

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