26/12/2009

A Maria e o Natal

A Maria nasceu no seio de uma família modesta no final dos anos 40. O principal acontecimento no Casteleiro, em noite de Natal, era assistir à “Missa do Galo” à meia-noite, quando os sinos repicavam sem parar e anunciavam o nascimento do Menino Jesus. Tinha o pequenino coração inundado de alegria, pois o Menino tinha nascido. Lá estava Ele no presépio da Igreja, muito pequenino e pronto para cada um o beijar, pois era uma figurinha que a sua mente transformava em menino verdadeiro.
Ao terminar a “Missa do Galo” caminhava para junto do “madeiro” que os rapazes que iam nesse ano à inspecção, a fim de serem apurados ou não para a vida militar, se encarregavam de acender, diziam, para aquecer o Menino Jesus. Aqueciam ao mesmo tempo, com vinho e filhós o corpo. O espírito, esse, era alimentado com as canções de Natal. Faziam rondas pelas ruas a cantar “ Oh meu Menino Jesus, Oh meu Menino tão belo, só tu vieste nascer, na noite do caramelo”, ou outras canções mais profanas como, “ Natal! Natal! Filhoses com vinho não fazem mal” coisa que a gente bem estranhava e achava mal, por haver assim uma profanação da Noite Sagrada.
Para ela as prendas de Natal eram coisas de meninos ricos. Apesar de tudo tentava a sorte ao colocar na chaminé o seu sapatinho de menina. Tinha rezado ao deitar, mas nunca se sabe, pois Ele tinha tantos meninos para cuidar, porquê ela ser especial?
Ao levantar-se, na manhã seguinte, corria para a lareira, para ver se o Menino Jesus se tinha lembrado dela nessa noite. Aí encontrava então alguns tostões e rebuçados. Que bom, dizia, afinal o Menino Jesus tinha passado por ali. Não entendia porém, porque é que junto a este presente estava também piripiri!...Era uma coisa que a intrigava, pois o Menino Jesus que sabe tudo, bem sabia que ela tinha horror ao picante. No entanto ouviu o criado de lavoura a rir-se e descobriu que afinal tinha sido ele que fez tamanha malvadez, pois o Menino Jesus nunca lhe pregaria uma partida dessas. A mãe Hermínia repreendia o criado por fazer isso à miúda, porém o pai Manuel Guerra ria, pois tinha achado piada.
A avó também tinha sempre algum pequeno presente para si, nem que fosse o boneco pançudo, feito com a massa das filhós, assim como o melhor bocado de cabrito ou peru, o arroz doce e o famoso leite-creme da avó.
A Maria cresceu, foi para a cidade e o Natal mudou. Já não há “Missa do Galo” não há “madeiro” mas as prendas, essas, são mais valiosas do que os simples tostões colocados no seu sapatinho. As prendas deviam dar-lhe uma alegria proporcional ao valor dos presentes que recebe, mas isso não acontece! Descobriu então, que afinal ela tem mais prazer em dar do que receber, sobretudo àqueles que nem sequer têm como ela tinha os tostões e o boneco pançudo feito da massa das filhós.

“A viagem mais importante que podemos fazer na vida é encontrar pessoas pelo caminho”

Um Bom Ano 2010 para todos.

Texto de autoria de Mariazinha Guerra

1 comentário :

  1. O "Viver Casteleiro" agradece à Mariazinha a sua participação neste espaço que, esperamos, seja o primeiro de muitos outros.
    Um Feliz Natal para toda a família.

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