Sempre me deliciou a maneira como os nossos mais velhos falam e falavam.
Quanto mais entrava pelo Liceu e Faculdade, mais percebia o que estava em cima da mesa quando alguém chegava e dizia: «A marrana anda barronda». E sempre procurei perceber de onde vinham aquelas palavras que não estavam no dicionário. Umas vezes percebia, outras nem tanto. Querem ler alguns exemplos? Vamos a isso.
Mas, antes de mais, umas notas sobre pronúncia propriamente dita:
- na nossa terra pronunciava-se «tch» em vez de «ch» (por exemplo: «tchave» por «chave»);
- dizia-se «ais» no final das palavras em vez de «agem» (em «lavagem», por exemplo: «lavais»);
- pronunciava-se «ê» por «ei» (em «rosêra», em vez de «roseira», por exemplo).
Agora alguns vocábulos típicos do Casteleiro:
Irvais (por ervagem, penso) – lameiro, pasto para os animais.
Lapatchêro (por lapacheiro,acho, seja lá o que for: não encontro no dicionário) – lamaçal, água entornada no chão.
Gatcho – cacho de uvas (trata-se apenas de uma corruptela na pronúncia: o abrandamento de consoantes, de c para g neste caso, é muito frequente na linguagem popular).
Pintcho – fechadura.
Cortelho – pocilga, local onde permanecem os animais (chamo a atenção para o seguinte: no Minho, pelo menos, chamam «corte» – leia-se côrte – às pocilgas. Ora, pela proximidade de Castela, a nossa palavra «cortelho» pode resultar de um diminutivo de corte – o que em castelhano se escreveria, hipoteticamente, «cortello»… Sei lá…).
Sampa – tampa de uma panela (esta é muito boa…).
Azado, azadinho – jeitoso (leia o 1º «a» aberto, como se tivesse um acento: «àzado».
Cotear – usar muito.
Frintcha – abertura estreita.
Cote – uso. Mas há duas expressões antigas com piada: o fato dos domingos era o fato domingueiro, o da semana era o «da cote». Leia «dà cóte» e faça sorrir os seus mais velhos lá de casa.
Limbelha – metidiça, que quer saber tudo (ponho no feminino porque era mesmo usado só para as raparigas e para as mulheres).
Atchaque – maleita, doença
Assêqui (esta é muito bem apanhada) – dizem que, parece que, consta (de: «Eu sei que», acho).
Pantchana – enrascado.
Delido – desfeito (por exemplo, um peixe quase podre está mesmo «delido»).
Gostaram? Isto tem muita piada.
Obrigado a quem me ajudou nesta tarefa.
Já agora uma nota: foi preciso chegar esta malta à autarquia para se poder pagar a água e a luz etc. sem mais aquelas. Ainda bem. É com estas e com outras que até já me fazem abrir o raio do «site» todos os dias – já tinha poucas leituras obrigatórias, então: é mais uma… Obrigado pela dinâmica serena que mostram.
Quanto mais entrava pelo Liceu e Faculdade, mais percebia o que estava em cima da mesa quando alguém chegava e dizia: «A marrana anda barronda». E sempre procurei perceber de onde vinham aquelas palavras que não estavam no dicionário. Umas vezes percebia, outras nem tanto. Querem ler alguns exemplos? Vamos a isso.
Mas, antes de mais, umas notas sobre pronúncia propriamente dita:
- na nossa terra pronunciava-se «tch» em vez de «ch» (por exemplo: «tchave» por «chave»);
- dizia-se «ais» no final das palavras em vez de «agem» (em «lavagem», por exemplo: «lavais»);
- pronunciava-se «ê» por «ei» (em «rosêra», em vez de «roseira», por exemplo).
Agora alguns vocábulos típicos do Casteleiro:
Irvais (por ervagem, penso) – lameiro, pasto para os animais.
Lapatchêro (por lapacheiro,acho, seja lá o que for: não encontro no dicionário) – lamaçal, água entornada no chão.
Gatcho – cacho de uvas (trata-se apenas de uma corruptela na pronúncia: o abrandamento de consoantes, de c para g neste caso, é muito frequente na linguagem popular).
Pintcho – fechadura.
Cortelho – pocilga, local onde permanecem os animais (chamo a atenção para o seguinte: no Minho, pelo menos, chamam «corte» – leia-se côrte – às pocilgas. Ora, pela proximidade de Castela, a nossa palavra «cortelho» pode resultar de um diminutivo de corte – o que em castelhano se escreveria, hipoteticamente, «cortello»… Sei lá…).
Sampa – tampa de uma panela (esta é muito boa…).
Azado, azadinho – jeitoso (leia o 1º «a» aberto, como se tivesse um acento: «àzado».
Cotear – usar muito.
Frintcha – abertura estreita.
Cote – uso. Mas há duas expressões antigas com piada: o fato dos domingos era o fato domingueiro, o da semana era o «da cote». Leia «dà cóte» e faça sorrir os seus mais velhos lá de casa.
Limbelha – metidiça, que quer saber tudo (ponho no feminino porque era mesmo usado só para as raparigas e para as mulheres).
Atchaque – maleita, doença
Assêqui (esta é muito bem apanhada) – dizem que, parece que, consta (de: «Eu sei que», acho).
Pantchana – enrascado.
Delido – desfeito (por exemplo, um peixe quase podre está mesmo «delido»).
Gostaram? Isto tem muita piada.
Obrigado a quem me ajudou nesta tarefa.
Já agora uma nota: foi preciso chegar esta malta à autarquia para se poder pagar a água e a luz etc. sem mais aquelas. Ainda bem. É com estas e com outras que até já me fazem abrir o raio do «site» todos os dias – já tinha poucas leituras obrigatórias, então: é mais uma… Obrigado pela dinâmica serena que mostram.
Espaço de opinião de autoria de José Carlos Mendes
Pois é: a malta vai à palhêra acomodar o vivo, arregala-se com a pipa, amaga-se no môtcho e alivia o espitcho bastas vezes. O resultado é uma borratchêra e um trambolhão pra cima das cangalhas. No dia seguinte, já quase a alça-las, vai ao enderêta e já está: atabricado mas pronto prá jêra, que domingo há boda!
ResponderEliminarTó Zé
Força, TZ.
ResponderEliminarEssa foi muito boa...
Já nos fizeste rir à séria.
Muitos parabéns algumas ainda se ouvem outras nem por isso é uma pena perderem se.
ResponderEliminarBoa continuação....
Essa teve muita piada.....
ResponderEliminarFartei-me de rir á grande, umas já conhecia, outras nem por isso.
Parabéns e boa continuação....
Olá a todos.
ResponderEliminarJá vi que estas coisas muito populares e antigas (seja a medicina, sejam as tradições e o cancioneiro local, seja o linguajar) entusiasmam o pessoal.
Ainda bem.
Houve mesmo quem já falasse de se editar algo com elementos deste tipo. E um dia poder-se-ia encarar isso, quem sabe... Mas recordo que já há algum material publicado nesse domínio.
Mais lhes chamo a atenção ainda para o seguinte: este entusiasmo deixa-me ainda mais feliz porque estas dimensões do nosso conhecimento e do nosso passado são, em meu entender, dimensões da nossa cultura colectiva enquanto Povo - neste caso, o Povo do Casteleiro. Importaria um dia saber de onde viemos: como se formou este povoado, por que lhe chamaram Casteleiro (tem a ver com Castelo, de certeza: talvez fosse, dizem-me e já li, o local onde vivia o guardião do castelo de Sortelha... mas isso não bate muito certo com a História medieval portuguesa, pois não? - Os castelos tinham senhores e nobres a defendê-los e não funcionários que fossem «casteleiros»....).
Enfim, tanta coisa para saber.
E aquela estrada romana que se mete comigo?
Quem ali passava?
E, coisa mais recente: sabem que a 1ª carta de condução em todo o Portugal (atribuída pelo Automóvel Clube Português, que era a entidade com o poder de o fazer, na altura) veio para o Casteleiro e que isso aconteceu em 1905 - e que o seu titular era o célebre «Dr. de Santo Amaro», isto é, o Morgado de Santo Amaro? E sabem por que é que ele era de facto «morgado»? E que se calhar andou em Coimbra mas nem se sabe se chegou a entrar na Faculdade de Direito ou se fez algum dia algum exame? Mas como andou em Coimbra... vai disto: «Doutor»!
Tanto passado, meus amigos.
E pensar que foi daqui que nós viemos.
Não é giro?