01/11/2009

Cheiros e Sabores de outros tempos (1)

O Outono está aí! Embora as temperaturas persistam em manter os agasalhos bem guardados, a natureza não perdoa!
Percorrendo os campos da nossa terra, agora queimados, os casteleirenses, podem, aqui e a ali, ver as mutações das cores, em que o castanho e o vermelho assumem a excelência.
Mas o Outono trazia outras coisas tão características da nossa terra. As ruas ficavam invadidas do cheiro a mosto, a jeropiga e a aguardente.
Quem não se lembra do sacrifício que os “garotos” faziam quando tinham que entrar às pipas para proceder à sua limpeza, para mais tarde poderem receber o vinho que daria força a tanta gente durante o ano de trabalho.
É que estes, de tão pequenos que eram, entravam mais facilmente naqueles recipientes feitos de madeira, cuidadosamente trabalhada.
Já imaginaram o perigo de intoxicação a que estas crianças eram expostas!? Eu acho que nesse tempo as crianças não corriam qualquer perigo! … ou melhor, o único perigo, era mesmo o de brincar – por isso evitava-se!...
A propósito, lembram-se como se chamava o pó avermelhado saído do interior das pipas, depois de bem raspadas? - Era o “sarro”, que depois era vendido, por um preço razoável, diziam, aos “farrapeiros” do Dominguizo. Às crianças, sujeitas a tais torturas alcoólicas é que não sei se lhe calhava alguma parte do negócio!?
Hoje os tempos são outros: a aldeia desertificou-se, as vinhas estão velhas e cansadas, as pipas estão vazias e, os cheiros a que me refiro estão cada vez mais ausentes deste quotidiano, mas bem guardados nos sótãos das nossas recordações.

Espaço de opinião de autoria de Joaquim Gouveia

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