Para qualquer terra, se eu disser a palavra «italianos», isso significa apenas os habitantes da Itália. Ou seja: nada de local, nada de pessoal, nada de próximo.
Mas para a malta do Casteleiro, «Os Italianos» são algo bem conhecido: são um edifício. Melhor: eram um edifício. (Escrevo com maiúscula porque a expressão «Os Italianos» designa um local, um mito, quase).
Este local é aquele onde agora fica o Café Estrela.
O edifício que lá estava era por todos conhecido assim, simplesmente: «Os Italianos».
As situações em que se falava dos Italianos eram muito diversificadas.
O local foi inicialmente uma espécie de fábrica. Depois virou uma espécie de centro cultural ou melhor: centro de divertimento popular.
Então era assim:
- O Delfim vem cá fazer comédias.
- Onde?
- Nos Italianos.
Ou então isto:
- No domingo vem cá o acordeonista e há baile nos Italianos.
Ou ainda:
- Hoje à tarde há cinema nos Italianos.
Claro que estou a falar dos anos compreendidos entre 1942-43, data da construção, mas sobretudo dos primeiros anos da década de 50, e meados da década de 80 do século passado, quando o edifício original foi demolido para dar lugar às habitações que lá estão e ao café. Daquele grande empreendimento, resta apenas a imitação da grade exterior, junto da estrada.
Nesse tempo, é bom recordar, não havia ainda electricidade (foi instalada em 1955). Nos Italianos, claro, nunca ninguém mandou instalar corrente eléctrica. E quanto ao cinema, recordo que não havia ainda outro tipo de cinema que não o cinema mudo, não havia senão o cinema a preto e branco. A máquina de projecção funcionava com alguma espécie de energia: as pessoas mais velhas com quem falei não têm nenhuma ideia de que o senhor das fitas desse à manivela – como vemos nos filmes. Mas parece-me também muito cedo para ele ter um gerador. Mas não pense que o gerador é uma coisa muito moderna: foi inventado em 1831!
Mas então porquê tudo isto nos «Italianos»? Porquê esse enorme edifício rasteiro, tipo armazém, em tijolo revestido a cimento cinza clarinho, muito lisinho, coisa que sempre me impressionou? Porquê essa designação: «Italianos»?
Tudo simples e, mais uma vez, tudo ligado ao volfrâmio.
Já escrevi aí em baixo noutra crónica que muita gente do Casteleiro recolhia o volfrâmio nos campos e depois o vendia a intermediários que por sua vez acabavam por vendê-lo ou aos ingleses ou aos italianos, sendo que estes últimos o canalizavam sobretudo para os alemães.
Com o minério, ingleses e alemães faziam canhões e munições de alta potência.
No Casteleiro, instalou-se um grupo de italianos (quer dizer: instalaram a fábrica, uma separadora de minério). Basicamente eram dois irmãos: os Menegoni.
Construíram a separadora mas nem chegaram a usá-la: perderam a guerra quando tudo estava quase pronto, em 1943.
Fugiram, segundo percebi, para a Argentina.
Ficou o edifício: «Os Italianos». Ou, melhor ainda: «os Fornos dos Italianos».
Os mais novos, que são a maioria dos leitores deste blog, não fazem ideia do que é que estou a falar e nem sequer alguma vez viram o edifício.
Mas, se perguntarem aos pais e aos avós, não há quem não se lembre dos Italianos. E muitos dançaram lá ou viram lá as comédias do Delfim Pedro Paixão – um dos heróis da minha infância quase esquecido por toda a gente.
Mas para a malta do Casteleiro, «Os Italianos» são algo bem conhecido: são um edifício. Melhor: eram um edifício. (Escrevo com maiúscula porque a expressão «Os Italianos» designa um local, um mito, quase).
Este local é aquele onde agora fica o Café Estrela.
O edifício que lá estava era por todos conhecido assim, simplesmente: «Os Italianos».
As situações em que se falava dos Italianos eram muito diversificadas.
O local foi inicialmente uma espécie de fábrica. Depois virou uma espécie de centro cultural ou melhor: centro de divertimento popular.
Então era assim:
- O Delfim vem cá fazer comédias.
- Onde?
- Nos Italianos.
Ou então isto:
- No domingo vem cá o acordeonista e há baile nos Italianos.
Ou ainda:
- Hoje à tarde há cinema nos Italianos.
Claro que estou a falar dos anos compreendidos entre 1942-43, data da construção, mas sobretudo dos primeiros anos da década de 50, e meados da década de 80 do século passado, quando o edifício original foi demolido para dar lugar às habitações que lá estão e ao café. Daquele grande empreendimento, resta apenas a imitação da grade exterior, junto da estrada.
Nesse tempo, é bom recordar, não havia ainda electricidade (foi instalada em 1955). Nos Italianos, claro, nunca ninguém mandou instalar corrente eléctrica. E quanto ao cinema, recordo que não havia ainda outro tipo de cinema que não o cinema mudo, não havia senão o cinema a preto e branco. A máquina de projecção funcionava com alguma espécie de energia: as pessoas mais velhas com quem falei não têm nenhuma ideia de que o senhor das fitas desse à manivela – como vemos nos filmes. Mas parece-me também muito cedo para ele ter um gerador. Mas não pense que o gerador é uma coisa muito moderna: foi inventado em 1831!
Mas então porquê tudo isto nos «Italianos»? Porquê esse enorme edifício rasteiro, tipo armazém, em tijolo revestido a cimento cinza clarinho, muito lisinho, coisa que sempre me impressionou? Porquê essa designação: «Italianos»?
Tudo simples e, mais uma vez, tudo ligado ao volfrâmio.
Já escrevi aí em baixo noutra crónica que muita gente do Casteleiro recolhia o volfrâmio nos campos e depois o vendia a intermediários que por sua vez acabavam por vendê-lo ou aos ingleses ou aos italianos, sendo que estes últimos o canalizavam sobretudo para os alemães.
Com o minério, ingleses e alemães faziam canhões e munições de alta potência.
No Casteleiro, instalou-se um grupo de italianos (quer dizer: instalaram a fábrica, uma separadora de minério). Basicamente eram dois irmãos: os Menegoni.
Construíram a separadora mas nem chegaram a usá-la: perderam a guerra quando tudo estava quase pronto, em 1943.
Fugiram, segundo percebi, para a Argentina.
Ficou o edifício: «Os Italianos». Ou, melhor ainda: «os Fornos dos Italianos».
Os mais novos, que são a maioria dos leitores deste blog, não fazem ideia do que é que estou a falar e nem sequer alguma vez viram o edifício.
Mas, se perguntarem aos pais e aos avós, não há quem não se lembre dos Italianos. E muitos dançaram lá ou viram lá as comédias do Delfim Pedro Paixão – um dos heróis da minha infância quase esquecido por toda a gente.
"Memória", espaço de opinião de autoria de José Carlos Mendes
As histórias do Casteleiro são lindas, mas contadas pelo meu avo têm outro encanto.
ResponderEliminarQuando era pequena, não há muito tempo, o meu avo Manuel Fortuna contava-me estas histórias de uma maneira que só ele sabe contar. A minha atenção era total. Graças ao magnífico contador de Histórias fiquei a conhecer esta e outras.
Não me lembro nada disso como é óbvio, mas do comediante Delfim Pedro Paixão muitos de nós nos lembramos, porque ele todos os anos passava por cá para nos brindar com a magia que nos já conheciamos de côr mas era sempre bom reve-lo....era sempre uma noite bem passada....
ResponderEliminarBia
Do nascer dos Italianos não me lembro, mas das comédias do Delfim, perfeitamente!E do edifício antigo com as cracterísticas que descreve tambem me lembro! H.Fonseca
ResponderEliminar