Na próxima segunda-feira é dia da Senhora da Póvoa.
Os nossos avós e nós, os da minha geração, adoptámos como nossa a romaria da Senhora da Póvoa.
Aliás, era uma data esperada com alguma ansiedade, pois digamos que era até um «momento alto» do ano, porque a maior parte das pessoas que se encontravam fora aproveitavam para visitar as famílias e irem juntos à romaria. Só que… romaria sem merenda não fazia sentido. Então havia que preparar uma bela carne de borrego ou cabrito assado no forno de lenha, um bom arroz torrado e uma salada de alface. Havia ainda o chouriço, o presunto e um bom queijo curado. Para rematar, o vinho tinto que não podia faltar na mesa de um bom português...
Como na altura havia poucos carros, eram usados burros e carroças para o transporte das pessoas e alimentos. Estes últimos iam metidos nuns alforges novos, bonitos e que, a maior parte das vezes, eram reservados só para essas ocasiões festivas.
Nesse dia, famílias e amigos organizavam-se em grupos e faziam uma caminhada que durava mais ou menos uma hora. Durante esse tempo, cantavam com entusiasmo cantigas à Senhora, por vezes com letras bem engraçadas, como por exemplo:
«Nossa Sinhora da Póva
Nossa Sinhora da Póva
Esti ano não prometo
Qui mi morreu o amori
Qui mi morreu o amori
Ando vistida di preto»
Não eram, de modo nenhum, cantigas religiosas: apenas uma forma de manifestar
alegria. Isso não impedia que ao chegarem ao recinto não participassem nas cerimónias religiosas que se realizavam, até porque alguns tinham promessas para cumprir – e isso era ponto de honra. Terminadas as exéquias, e sentados no chão, em cima duma manta de trapos, eram expostas todas as iguarias, numa toalha esmeradamente lavada e passada a ferro.
Enquanto isso, os que ficavam em casa, colocavam-se em locais estratégicos para verem passar os ranchos que vinham das aldeias em redor, montados em burros, carroças e um ou outro autocarro enfeitados. Cantavam a plenos pulmões, era uma festa na aldeia, a Senhora da Póvoa era nossa e havia que tirar partido disso. Os que moravam junto à estrada eram privilegiados. Esses passavam o dia inteiro nas varandas e janelas, debruçadas até os cotovelos doerem, observando, comentando e rindo das situações mais engraçadas que iam acontecendo. Os outros deslocavam-se para a beira da estrada ou para casa de amigos onde ficavam até a festa terminar.
No fim da tarde, e depois de um dia bem passado, começava o regresso. O Casteleiro era paragem obrigatória. No largo de S. Francisco, e espontaneamente, fazia-se o grande baile. Todos, os da terra e os que estavam só de passagem, dançavam com entusiasmo. Um acordeão fazia toda a gente vibrar, Os que já tinham bebido mais do que deviam, às vezes provocavam distúrbios, que outros, mais sóbrios, tentavam apaziguar.
Toda esta alegria terminava altas horas, com toda a gente feliz e desejando que o ano passasse depressa, para tudo começar de novo
Nesse tempo as tradições tinham raízes profundas.
Experimentem imitar os vossos avós. Vão ver que gostam. É um intervalo na vida, muitas vezes frenética e complicada e, ao mesmo tempo, também um momento de convívio que, nos tempos que correm, tão necessário é.
Divirtam-se.
Os nossos avós e nós, os da minha geração, adoptámos como nossa a romaria da Senhora da Póvoa.
Aliás, era uma data esperada com alguma ansiedade, pois digamos que era até um «momento alto» do ano, porque a maior parte das pessoas que se encontravam fora aproveitavam para visitar as famílias e irem juntos à romaria. Só que… romaria sem merenda não fazia sentido. Então havia que preparar uma bela carne de borrego ou cabrito assado no forno de lenha, um bom arroz torrado e uma salada de alface. Havia ainda o chouriço, o presunto e um bom queijo curado. Para rematar, o vinho tinto que não podia faltar na mesa de um bom português...
Como na altura havia poucos carros, eram usados burros e carroças para o transporte das pessoas e alimentos. Estes últimos iam metidos nuns alforges novos, bonitos e que, a maior parte das vezes, eram reservados só para essas ocasiões festivas.
Nesse dia, famílias e amigos organizavam-se em grupos e faziam uma caminhada que durava mais ou menos uma hora. Durante esse tempo, cantavam com entusiasmo cantigas à Senhora, por vezes com letras bem engraçadas, como por exemplo:
«Nossa Sinhora da Póva
Nossa Sinhora da Póva
Esti ano não prometo
Qui mi morreu o amori
Qui mi morreu o amori
Ando vistida di preto»
Não eram, de modo nenhum, cantigas religiosas: apenas uma forma de manifestar
alegria. Isso não impedia que ao chegarem ao recinto não participassem nas cerimónias religiosas que se realizavam, até porque alguns tinham promessas para cumprir – e isso era ponto de honra. Terminadas as exéquias, e sentados no chão, em cima duma manta de trapos, eram expostas todas as iguarias, numa toalha esmeradamente lavada e passada a ferro.
Enquanto isso, os que ficavam em casa, colocavam-se em locais estratégicos para verem passar os ranchos que vinham das aldeias em redor, montados em burros, carroças e um ou outro autocarro enfeitados. Cantavam a plenos pulmões, era uma festa na aldeia, a Senhora da Póvoa era nossa e havia que tirar partido disso. Os que moravam junto à estrada eram privilegiados. Esses passavam o dia inteiro nas varandas e janelas, debruçadas até os cotovelos doerem, observando, comentando e rindo das situações mais engraçadas que iam acontecendo. Os outros deslocavam-se para a beira da estrada ou para casa de amigos onde ficavam até a festa terminar.
No fim da tarde, e depois de um dia bem passado, começava o regresso. O Casteleiro era paragem obrigatória. No largo de S. Francisco, e espontaneamente, fazia-se o grande baile. Todos, os da terra e os que estavam só de passagem, dançavam com entusiasmo. Um acordeão fazia toda a gente vibrar, Os que já tinham bebido mais do que deviam, às vezes provocavam distúrbios, que outros, mais sóbrios, tentavam apaziguar.
Toda esta alegria terminava altas horas, com toda a gente feliz e desejando que o ano passasse depressa, para tudo começar de novo
Nesse tempo as tradições tinham raízes profundas.
Experimentem imitar os vossos avós. Vão ver que gostam. É um intervalo na vida, muitas vezes frenética e complicada e, ao mesmo tempo, também um momento de convívio que, nos tempos que correm, tão necessário é.
Divirtam-se.
Texto de autoria de Maria Dulce Martins
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