10/12/2010

A memória...das palavras (II)

Há uns dias partilhei com todos aqueles que passam por este blogue, algumas das palavras que fazem parte da memória deste povo. Prometi voltar com novos exemplos dos percursos linguísticos que vão resistindo à voracidade do tempo.
Aqui vão:

Pão-leve – pão-de-ló
Meda – conjunto de molhos de centeio, aveia…acabados de ceifar
Jêra – porção de terra lavrada durante um dia, por uma junta (duas) de vacas. Representa cerca de meio hectare de terra
Alqueve – terra alta, preparada para a sementeira de cereais, normalmente centeio
Almude – medida de volume de origem árabe; cerca de 28 litros. Um cântaro de vinho leva 14 litros, ou seja meio almude
Dorna – vasilha cilíndrica formada de aduelas (tábuas de madeira de castanho), sem tampa e cujo diâmetro da boca é ligeiramente menor do que o do fundo. Servia para transportar uvas, em carros de bois, para o lagar. Tendo a boca mais estreita adquiria maior estabilidade nos caminhos maus e era, por isso, difícil voltar-se.
Balsêro – vasilha de tipo idêntico à “dorna”mas mais baixa e com os diâmetros da base e da boca sensivelmente iguais.
Borratchêra – bebedeira
Espitcho – orifício que se faz na pipa ou no pipo que tem vinho, para ver em que condições se está a fazer – “fazer a prova do vinho”. Depois tapa-se com um pauzinho afiado numa extremidade e untado de sebo.
Môtcho – banco de palha ou cortiça, baixo e quadrangular.
Putchêro – pequeno recipiente, geralmente de barro, que quase sempre estava junto à lareira, com chá, café… ou mesmo vinho com açúcar.
Têsto – tampa dos recipientes da cozinham (panela, tacho…)
Pilhêra – local da lareira, atrás do lume, para onde se costuma deitar a cinza. Esta era retirada de semana a semana.
Tanazas – tenazes
Tção – pedaço de lenha que não conseguiu arder completamente.
Aptchar – acender
Mourão – prateleira de granito sobre a lareira. Servia para ali colocar os palitos, novos e usados.
Palitos – fósforos
Caniço – grades de ripas colocadas no tecto da cozinha e que serviam para aí secar as castanhas.
Estrugir – fritar (batatas esturgidas = batatas fritas)
Amaga-te – baixa-te (obrigada Isabel Ângelo!)

E… nunca se esqueça que a língua (falada ou escrita) é parte integrante do património do nosso povo!

Prometo voltar com mais memórias das palavras.

"A Minha Rua", espaço de opinião de autoria de Joaquim Gouveia

4 comentários :

  1. Caro Joaquim,

    Estas palavras que aqui nos recordas são boas para conhecermos melhor a nossa gente. E para nos entendermos entre nós todos: os mais novos e os mais velhos.

    Peço-te por isso que nos expliques a todos outras palavras e expressões da nossa gente, como por exemplo:
    - escalêra,
    - balcão (da casa)
    - banço (da escada)
    - patchácolo / a,
    - taranta,
    - sampa,
    - testo,
    - sartã
    - gadanha (do caldo).

    Ou então, traduz-nos este diálogo:
    - Ó te Maria, vai pó tchão?
    - Vou dar a abobrais ó vivo.
    - Eu atão andê todà noite dalevanto. Inté me doiem as cruz.

    Vá, põe-nos isto em linguagem formal, se és capaz (claro que és, força aí).

    E assim se fala em bom «casteleirense», não é?...
    José Carlos Mendes

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  2. Meu bom amigo,

    Em primeiro lugar quero manifestar o prazer que me dá poder desfrutar deste espaço para partilhar esta riqueza linguística que caracteriza a nossa terra.
    Sendo eu apenas, um simples interessado e curioso na análise das raízes do nosso povo, tentarei dar resposta às questões solicitadas:

    escalêra - degrau da escadaria
    balcão (da casa)- conjunto de degraus
    banço - pau que faz parte da escada (de colher azeitona)onde se colocam os pés para subir ou saber
    patchácolo/a - pasmado/a (Ex: Amélia patchála, do Sabugal...)
    taranta - maluco; doido
    sampa - tampa da panela/tacho
    testo - tampa da panela
    sartã - frigideira
    gadanha (do caldo) - concha (da sopa.

    Agora vou tentar "traduzir" o suposto diálogo:
    - Oh ti Maria, vai para a fazenda, quinta...?
    - Vou dar comida (vianda-feita ao lume) aos animais.
    - Eu então andei toda a noite mal disposta (diarreia...). Até me doiem as costas.

    Obrigado pelo contributo.

    Joaquim Luís Gouveia

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  3. Bom, correndo o risco de alguma repetição, peço então mais estes esclarecimentos sobre o significado dos seguintes vocábulos usados no Casteleiro há muitos anos (hoje, se calhar, menos) - a lista não teria fim, mas trago aqui alguns:
    - Tchòriças (das pernas)
    - Azamel
    - Patcharouco
    - Bòguêlo
    - Zarinzel
    - Tcharimbelho
    - Garrantchos
    - Carounho (do milho)
    - Incinho
    - Galhoulho
    - Escano
    - Casquêro
    - Trempens
    - Coutcho
    - Cravelha
    - Cadeias (do lume)
    - Tchanêlo
    - Mòrão
    - Acebarrado
    - Contchas
    - Tchoquice
    ...
    Verdadeiramente à moda antiga...
    Agradeço explicação rigorosa, pois há alguns casos que pedem esclarecimento.
    Abraço.

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  4. Fica aceite o desafio. Prometo que, um dia destes, partilharemos com todos os nossos conterrâneos estas "beldades"... estas "memórias".
    Abraço

    Joaquim Luís Gouveia

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