O mês de Dezembro chega e com ele o Natal e o inevitável frio. Depois do Verão quente e do Outono mais ou menos temperado, eis que chega o inverno a arreganhar o dente. Devagar, quase pé ante pé, aproxima-se, ameaçador. Nas aldeias, o pouco movimento de rua deixa de existir. Há como que um recolher obrigatório e um apelo à lareira quase desactivada até então. Lá fora, o vento faz-se notar e com ele arrasta as folhas já secas que jazem no chão. O seu movimento faz lembrar um bailado onde as cores, entre o verde, o amarelo, o castanho e o tijolo, são as estrelas O assobio que emite arrepia as entranhas e leva-nos a imaginar um cenário ainda mais agreste. No aconchego das habitações, conversa-se e recordam-se bons e maus momentos, e fazem-se projectos – quem sabe?
Neste contexto os avós têm um papel importante – basta querer ouvi-los, são um manancial de sabedoria e experiência de vida. Por mim e quando posso sou fã. Passa uma semana, passam duas, passam três e devagarinho começa a ouvir-se repetidamente a palavra mágica:
- Natal!
E o alguidar, e os ovos, a aguardente, a laranja docinha, o azeite e o leite? Ah!… e a farinha? Será que não vai faltar? Que vergonha andar no último instante já com as mãos na massa a pedir farinha! Organizar é preciso para que nada falte. Chegado o dia e com tudo ao alcance, amassam-se as filhós, cozem-se as batatas com o bacalhau e as couves já quase cozidas pela geada. E que bem que sabe aquela mistura!..
No meu tempo era assim o Natal: simples, sem consumismos, sem desperdícios. Os afectos eram o mais importante e aconteciam sem esforço ou faz-de-conta; as prendas… talvez algum menino Jesus mais abastado resolvesse pôr no sapatinho que ficava junto à lareira ainda grande, algumas moedinhas ou rebuçados que ao outro dia faziam as delícias dos mais pequeninos.
No ar ficava o cheiro a lareira e a azeite frito e também a autenticidade, que, sobretudo esta última, aquecia os corpos e principalmente os corações.
Para todos um abraço de boas-festas com muita ternura à volta.
Bom Natal.
Neste contexto os avós têm um papel importante – basta querer ouvi-los, são um manancial de sabedoria e experiência de vida. Por mim e quando posso sou fã. Passa uma semana, passam duas, passam três e devagarinho começa a ouvir-se repetidamente a palavra mágica:
- Natal!
E o alguidar, e os ovos, a aguardente, a laranja docinha, o azeite e o leite? Ah!… e a farinha? Será que não vai faltar? Que vergonha andar no último instante já com as mãos na massa a pedir farinha! Organizar é preciso para que nada falte. Chegado o dia e com tudo ao alcance, amassam-se as filhós, cozem-se as batatas com o bacalhau e as couves já quase cozidas pela geada. E que bem que sabe aquela mistura!..
No meu tempo era assim o Natal: simples, sem consumismos, sem desperdícios. Os afectos eram o mais importante e aconteciam sem esforço ou faz-de-conta; as prendas… talvez algum menino Jesus mais abastado resolvesse pôr no sapatinho que ficava junto à lareira ainda grande, algumas moedinhas ou rebuçados que ao outro dia faziam as delícias dos mais pequeninos.
No ar ficava o cheiro a lareira e a azeite frito e também a autenticidade, que, sobretudo esta última, aquecia os corpos e principalmente os corações.
Para todos um abraço de boas-festas com muita ternura à volta.
Bom Natal.
Texto de autoria de Maria Dulce Martins
É exactamente isso.
ResponderEliminarRigorosamente.
Mas falta um pormenor bem teatral dos natais que eu conheço melhor, os da minha casa.
É que da festa de Natal nas casas, com os «lavarintos» todos (perguntem aos avós o que isto significa!!), o que mais aprecio é ainda aquele sururu dos diabos que vejo em todos os natais desde que me conheço e que acontece sempre na hora exacta em que se acaba de fazer as filhós.
Nesse exacto momento, é a hora de retirar do lume a «sartã» cheia de azeite a ferver.
Pois começa aí uma barulheira do caneco:
- Cuidado! Tira-te para trás! Olha que ainda escaldas algum! Aí vai! Olh'ò azête a ferver! Sai da frente, garoto! Tira o garoto, tira o garoto!
... Nas vossas casas não é a mesma coisa??
Aquilo é já uma espécie de cerimonial - e faz falta se ninguém disser que ainda alguém se escalda...
Bom Natal para todos nós!
Tendo como cenário o mesmo espaço físico e familiar deste meu amigo, queria só acrescentar mais umas cenas deste "lavarinto": - Vai lá buscar a lenha...aquele molhinho de ripas que está na garagem...mas vai depressa, que é preciso pôr a sartã ao lume, que a massa está finta...olha aqui até já faz bolhas!
ResponderEliminarMais tarde e já com o azeite bem quente: - vira essa filhós, rapaz! Não vez que já está a ficar queimada! Olha esta, que bonita! Não a deixes queimar!...
E a noite continua, às vezes cantando "Meu Menino Jesus/Meu Menino tão belo/Logo vieste nascer/Na noite do caramelo...
FELIZ NATAL
Joaquim Luís Gouveia
Eu juntava outro promenor que a mim me tocava e que agora já não existe (por estas bandas)...
ResponderEliminar"Acabadas de fazer e retirar a "sartã" das trempes que o azeite a fumegar brevemente pegaria fogo, chegava-se a hora de ir até à missa do Galo. A igreja cheia e ao cimo o presépio impunha-se para deleite dos mais novos que tanto gostavam de admirar a gruta e o que ela continha: a vaca, o burro, S. José, Nª. Senhora, e em palhas deitado o Menino Jesus". Após a missa e ainda pela noite dentro, ouviam-se cantares ao Deus Menino e em muitas casa continuava a consoada... BOAS FESTAS. AGil