Numa destas tardes domingueiras em que a passagem pelo Lar do Casteleiro faz parte da minha rotina há muitos anos, foi inevitável a habitual conversa com utentes e familiares.
Para além do calor que levamos a quem toma este espaço como um bocado da sua vida, trazemos sempre retidas na nossa memória muitas estórias, algumas delas passadas ou imaginadas num tempo bem remoto.
Da última vez que ali estive e em conversa com um octogenário que ainda trata a vida como um desafio permanente, ouvi-lhe uma pequena história que contava a um seu parente que “reside” nesta instituição há uma década.
Dizia assim: “Dantes tudo falava. Para além dos animais, falava o pão, falava o trigo e falava a cevada.
O pão (centeio) dizia: quem me houver de comer há-de ter bom coração! Sim, porque o pão era o principal sustento de todas as pessoas, daí marcar presença destacada em cada mesa da refeição – sobretudo das famílias mais humildes, mais pobres, mas de gente boa…
O trigo dizia: cá eu sou o trigo fidalguinho, que vou a todas as bodas e baptizados e ainda estou no altar sagrado! Aqui a exibição deste cereal para afirmar que era superior a qualquer outro e que por isso, só estava na mesa dos ricos e em locais sagrados…
Por último, a cevada afirmava: eu sou a cevada preganuda, mas no mês de Maio ainda dou a minha ajuda! E isto porquê? Explicava melhor a nossa fonte: antigamente eram tempos de fome, e o pão (consumido pelas pessoas do povo) não dava para todo o ano … e como a cevada amadurecia e era colhida primeiro, íamos ao moinho, trazíamos a farinha e, enquanto não havia pão (centeio), era daqui que se fazia o pão que comíamos. Era muito escuro e bastante preganudo, mas enquanto não havia o centeio, era o que valia!”
Fiquei fascinado com tal estória!
Quantas mais não haverão, algumas delas adormecidas naquelas cabeças que já esquecem rapidamente o presente, mas que lembram com precisão os tempos do seu crescimento.
Agora que tivemos recentemente o anúncio da “Casa da Memória”, porque não havemos também de começar a registar estes tesouros da nossa tradição oral?
Para além do calor que levamos a quem toma este espaço como um bocado da sua vida, trazemos sempre retidas na nossa memória muitas estórias, algumas delas passadas ou imaginadas num tempo bem remoto.
Da última vez que ali estive e em conversa com um octogenário que ainda trata a vida como um desafio permanente, ouvi-lhe uma pequena história que contava a um seu parente que “reside” nesta instituição há uma década.
Dizia assim: “Dantes tudo falava. Para além dos animais, falava o pão, falava o trigo e falava a cevada.
O pão (centeio) dizia: quem me houver de comer há-de ter bom coração! Sim, porque o pão era o principal sustento de todas as pessoas, daí marcar presença destacada em cada mesa da refeição – sobretudo das famílias mais humildes, mais pobres, mas de gente boa…
O trigo dizia: cá eu sou o trigo fidalguinho, que vou a todas as bodas e baptizados e ainda estou no altar sagrado! Aqui a exibição deste cereal para afirmar que era superior a qualquer outro e que por isso, só estava na mesa dos ricos e em locais sagrados…
Por último, a cevada afirmava: eu sou a cevada preganuda, mas no mês de Maio ainda dou a minha ajuda! E isto porquê? Explicava melhor a nossa fonte: antigamente eram tempos de fome, e o pão (consumido pelas pessoas do povo) não dava para todo o ano … e como a cevada amadurecia e era colhida primeiro, íamos ao moinho, trazíamos a farinha e, enquanto não havia pão (centeio), era daqui que se fazia o pão que comíamos. Era muito escuro e bastante preganudo, mas enquanto não havia o centeio, era o que valia!”
Fiquei fascinado com tal estória!
Quantas mais não haverão, algumas delas adormecidas naquelas cabeças que já esquecem rapidamente o presente, mas que lembram com precisão os tempos do seu crescimento.
Agora que tivemos recentemente o anúncio da “Casa da Memória”, porque não havemos também de começar a registar estes tesouros da nossa tradição oral?
"A Minha Rua", espaço de opinião de autoria de Joaquim Gouveia
Fiquei muito agradada com o texto «Tradição oral… é urgente recuperar!» escrito pelo nosso amigo Joaquim Gouveia. Como é bom ver que ainda há quem se importe com os idosos e não os trate apenas como um empecilho sem préstimo.
ResponderEliminarÉ verdade, sim, que, se tivermos não só a paciência mas também gosto de os ouvir, não só os faremos sentir úteis como, de certeza, também ficaremos mais ricos.
Esse diálogo entre os dois idosos foi lindo!!!
Força com a ideia dos registos.
Maria Dulce
Os idosos são como as crianças precisam de muita atenção, para sentirem vivos, e úteis.
ResponderEliminarTambém gosto da ideia de dar continuidade a esse levantamento.