06/02/2010

Quando os Carnavais eram Entrudos…

O mês de Fevereiro está aí e com ele o Carnaval que, em tempos idos, era sinónimo de festa e boas comidas. No Casteleiro, por feliz iniciativa da Junta, vai-se recriar o «Testamento do Galo». E há outras tradições engraçadas.
Em tempos, por esta altura, os mais abastados tinham acabado de fazer as matanças e as arcas, então de madeira e cheias de sal, guardavam quase carinhosamente tudo ou quase tudo o que o porco dava.
Na noite de segunda para terça, chorava-se o Entrudo: se alguém caía na rua, era certo e sabido que a envergonhavam nessa noite. Um homem, de funil, contava em tom jocoso, ridicularizando o sucedido, que a pessoa tinha caído:
- Não tem vergonha! Uuuuuh! A menina Fulana não tem vergonha andar a cair no meio da rua…
Às vezes a coisa era mais séria e até dava para o torto.

Terça-feira de Entrudo
Chegado o dia, era ver os panelões cheios das mais saborosas iguarias: do pé de porco, à orelha e ao chouriço de ossos, por exemplo.
Depois de bem comidos e alguns bem bebidos, saíam à rua para ver os entrudos passar.
Era aí que, no meio da algazarra, surgiam duas ou três figuras emblemáticas, que se destacavam pelos adereços: um burro manso e velho que era enfeitado com todas as velharias que houvesse lá por casa, um chapéu de chuva velho e uns vestidos.
Os criativos, José Balbino e irmão, travestiam-se com as roupas femininas que tinham à mão, preocupando-se com arranjar os artifícios apropriados, que simulavam os atributos femininos.
Cena de uma ingenuidade que hoje dá ternura…
Montado o cenário, lá iam eles aldeia fora, juntando à sua volta crianças e alguns adultos, que riam a bandeiras despregadas.
Um, sentado no burro, o outro, «zanzando» à volta, metendo medo à criançada, que fugia, fingindo que tinha medo, para logo voltar a pedir mais.
Era neste ambiente de partilha e envolvência, que toda a gente assistia ao espectáculo, cujo tema não mudava muito de ano para ano, excepto uma ou outra lenga-lenga dita com muita graça, mas sem conteúdo ou maldade. Tinha só a intenção de divertir.
E os «comediantes» conseguiam-no, porque no ano seguinte, lá estavam outra vez, actores e espectadores no mesmo teatro de rua para se divertirem desde as 10 até a noite cair.
Havia um pequeno pormenor para os dois comediantes: como a brincadeira era acompanhada de copos, o regresso a casa era feito em ziguezague e ao trambolhão, até chegarem a casa, onde as suas Marias os esperavam, já habituadas a estes rituais do Entrudo.
Havia um deles, que era todo mimos e, ao chegar, fazia:
- «PUM!», como se disparasse um tiro.
E como ela não reagisse, soltava:
- Então, Mariazinha? Não te sobressaltaste, meu amor?
Após isto, acredito que caía na cama e sonhava com o carnaval do ano seguinte.







Texto de autoria de Maria Dulce Martins

1 comentário :

  1. É bom recordar estas tradições, que embora não tenham passado assim tantos anos, os mais novos não conhecem.
    Desafio agora a autora deste post a trazer até nós as célebres "CACADAS", aliadas ao Entrudo.

    jgouveia

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