24/03/2014

CORNATCHO


Apesar da seara que o há-de, se encontrar no seu desenvolvimento natural, ao longo dos seus nove meses de gestação (de novembro a julho), hoje apeteceu-me trazer à vossa lembrança e conhecimento, algo estranho - «cornatcho» - procurado nas espigas do centeio, por alturas da ceifa.
Crianças e adultos, de olhos bem abertos, percorriam as searas já amadurecidas e, quando encontravam este fungo do centeio, de forma córnea, explodiam de alegria. O preço a que era vendido justificava tal busca.
Depois de colhido, era muito bem guardado até que passavam pelo Casteleiro uns homens munidos com uma “balança de dois braços” para o comprar e pagar. Normalmente aos domingos – dia de agradecimento ao Senhor – ouvia-se o já conhecido pregão:
- “QUEM TEM LENTICÃO, SARRO E FERRO VELHO P’RA VENDER?” Assim diziam em voz alta os homens de saco às costas, vindos do Dominguizo – terra do concelho da Covilhã. 
No tempo em que o dinheiro não abundava, sempre era uma ajudinha para comprar a roupa e os sapatos para a festa de Santo António, que seria no mês de Agosto.
Notas:
(1)   Lenticão: nome das excrescências do centeio (no Casteleiro chamadas de «cornatcho»);
(2)   Sarro: nome dado ao pó retirado ao interior das pipas do vinho, aquando da sua preparação para, em setembro, levarem o vinho novo.
(3)   Ferro velho: relhas e bicos dos arados, já gastos, usados na lavragem da terra; aros de pipas, já corroídos pelos anos; panelas de ferro consumidas pelas gerações já passadas (…) entre outros ferros que pudessem ser «reciclados».
 
APELO: Consciente do espaço mediático e de comunicação que, hoje em dia, o Faceboock ocupa no dia-a-dia dos cidadãos, não posso deixar de fazer um apelo a todos os casteleirenses para que, apesar disso, não deixem de utilizar o nosso blogue VIVER CASTELEIRO.
Considero este meio um espaço plural onde, cada um, à sua maneira, pode contribuir para um conhecimento cada vez maior, desta nossa terra.
Desde os documentos que trazem até nós o conhecimento de figuras e acontecimentos relevantes na história do nosso povo, passando pelos recortes de vidas e tradições, o VIVER CASTELEIRO assume-se, ainda, como um espaço de informação sobre os mais variados aspetos do dia-a-dia do Casteleiro.
 
 
 
 
 
 "A Minha Rua", Joaquim Luís Gouveia

 

 
 

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