22/10/2013

Escuridão


Penso muitas vezes nesse tempo longínquo.
Portugal era um país ignorado e vivia nas trevas.
A sua gente, pelo menos a grande maioria, era analfabeta e demasiado limitada no conhecimento.
As pessoas desconheciam que havia mundos diferentes e outras culturas.
Viviam oprimidas e subjugadas.
Havia depois os senhores da terra.
Esses, apesar de serem os senhores, pouco mais sabiam.
Sabiam, sim, explorar os que dependiam deles.
A escuridão era total.
No País, na nossa aldeia, assim como nos cérebros.
Uma das consequências dessa situação tinha a ver com a falta de higiene nas ruas e nas pessoas – o que era tido como um estado normal.
A escola era vedada aos filhos, porque estes faziam falta nas tarefas do campo.
Se fossem do sexo feminino a coisa piorava um pouco.
Havia a ideia de que o conhecimento levava a maus caminhos.
Achava-se que quanto mais se sabia, maior seria a confusão.
O mais grave, é que ninguém se apercebia de que estava ser enganado.
Ninguém se dava conta de que poderia ser doutra forma; que seria benéfico em todos os aspectos que as coisas fossem diferentes.
Essa informação não lhes chegava.
A «escuridão» tinha a primazia.
Em termos de higiene: a nossa aldeia estava enxameada com currais, galinheiros e palheiras com animais, que desaguavam os seus detritos para as ruas.
Os habitantes procuravam o campo ou um local escondido atrás de qualquer obstáculo, um sítio para fazerem as necessidades fisiológicas, porque as casas, mesmo as mais ricas, não tinham casas de banho.
Durante a noite, usavam-se baldes que depois, de manhã, eram despejados para a rua que todos pisavam.
Vivia-se e respirava-se um cheiro nauseabundo, que ninguém estranhava.
Era assim. Era normal.
A falta de conhecimento e a escuridão em que se vivia, convinha aos governantes e a muitos outros que viviam à sombra dessa escuridão e dessa ignorância.
Alguém quer voltar atrás?
Abraço.
 
 
 
Dulce Martins
 
 
 
 

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