20/06/2013

Quando os dias passam devagar


 
O bater das horas no relógio da torre da igreja marca o ritmo artificial do tempo. É lento, demasiado lento…
Por aqui, o silêncio das ruas é quebrado por este som ritmado, algo sofisticado pela melodia que o acompanha.
De longe em longe encontramos mulheres de preto sentadas na soleira da porta ou no “balcão”, com degraus, desgastados pelo rigor do tempo.
No largo de S. Francisco permanecem, diariamente, as mesmas pessoas, quão “guardas do Templo” por alturas da guerra. Fazem de guias turísticos a quem passa de carro … vão arrumando as novidades, para que, ao domingo possam ser difundidas pelo engrossar do grupo de convivas…vão fazendo a crítica, pura e dura, às obras que, aqui e ali, transformam o Casteleiro.
Esta calmaria é caracterizadora de uma aldeia, como tantas outras, deste interior tão profundo.
A contrastar com esta desertificação, está o Lar e Centro de Dia da terra. Como dizia alguém, no passado fim-de-semana: “há mais gente no Lar, do que no Casteleiro inteiro”.
Aqui o tempo, também, passa devagar. As rotinas: das refeições, da higiene, dos procedimentos médicos…ou os trabalhos habilidosos de muitos dos seus utentes, marcam o ritmo dos dias.
Diariamente, a animadora cultural, rebusca nas memórias dos octogenários, residentes, vivências passadas, corporizando-as em artefactos reais, cada um com sua história, marcadamente rurais, marcadamente masculinos ou femininos.
Os espantalhos!
Por si só traduzem um tempo, envolvido em histórias, muitas vezes carregadas de humor, ou mesmo, roçando a brejeirice.
E o tempo passa…passa devagar!
 
Joaquim Gouveia

2 comentários :

  1. Texto muito bonito...e descritor de uma realidade que se vive no nosso interior..é preocupante o que se passa neste nosso país e a agravar toda esta situação é a grande fuga de jovens para o estrangeiro à procura de sustento...
    Mas voltando ao texto do Joaquim...ele faz-nos um apelo implícito...`"não esqueçamos a nossa terra, nós os que estamos fora, sempre que possível, devemos visitá-la...quem não valoriza as suas origens??!!" AGil

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  2. Para uns passa devagar, para outros a correr!!!Tão depressa passam as horas (e o relógio não se cansa) que mais dia,menos dia, somos nós a ouvir o bater lento do relógio da torre!!!!!È a lei da vida!!! Continua inspirado.....que eu gosto. H.F

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