10/04/2010

O meu fascínio pelas cegonhas

Sempre, desde que me conheço, caminhei diariamente, para casa da minha avó materna. Era lá muito acarinhada, e por isso sentia-me muito bem naquele ambiente familiar. Foi lá que, para lá de muitas outras coisas, aprendi a gostar de cegonhas.
A casa da minha avó era um lugar privilegiado para observar a azáfama que então começava. Tinha um balcão solarengo virado para a torre, que era a «casa» escolhida por elas há muito tempo. Dali, a observação era perfeita.
Chegavam com a primavera. Depois de descansarem, começava o trabalho. O ninho que então tinham deixado, precisava de obras e isso era prioritário. Era vê-las num corrupio, acarretando pauzinhos de vide, restos de palha, e tudo o que achavam útil, para aconchegar o ninho que iria receber os ovos, e mais tarde os filhotes.
Era aí que eu me deliciava com a graça e organização daqueles bichos, apetecia-me dizer que quem dera a muitos humanos! O trabalho era organizado em equipa. Logo que os ovos começavam a ser chocados, ora o macho ora a fêmea percorriam os arredores à procura de alimentos. Quando os bebés nasciam, os cuidados redobravam, o casal revezava-se para os alimentar. Era um momento bonito, quando as cabecitas, com os seus bicos compridos e bem abertos, apareciam para apanhar os alimentos que os seus progenitores lhes levavam. Mãe e pai responsáveis e incansáveis nos cuidados a prestarem. Seguiam-se os primeiros ensaios de voo. Aquele bailado era conduzido com a perícia dos artistas, àquele cenário em conjunto com o silêncio da aldeia, só faltava juntar uma música clássica e imaginarmo-nos num local de sonho.
Ainda hoje não sei por que é que o ninho das cegonhas desapareceu.
Não acredito que fosse maldade. Ignorância…talvez.
Sempre que vou ao Casteleiro e passo no Fundão delicio-me com a colónia enorme que agora se encontra à saída.
Apesar de tudo, quando olho para a torre que me acompanhou durante tantos anos, não posso deixar de sentir pena, e nostalgia. As cegonhas levavam vida e alegria à aldeia.
Fazem falta os comentários: «Olha! As cegonhas chegaram!».
Já que mais não fosse, para as pessoas comunicarem.





Texto de autoria de Maria Dulce Martins

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