Nos meus tempos de menina, lembro-me, o domingo era um dia especial. Porquê? Porque nesse dia, para lá de outras coisas, havia bailarico.
Um bailarico dos antigos, entenda-se, não daqueles que se fazem agora nas discotecas, tudo ao molho, com ruído ensurdecedor, com copos cheios de álcool e, por vezes, outras substâncias à mistura. Nessa altura, não precisavam disso para serem felizes.
Chegava-lhes um acordeão, um acordeonista, e espaço ao ar livre.
Só mais tarde, já a tender para os costumes de hoje, se começaram a usar espaços fechados.
Havia um grupo que tinha a tarefa de contratar o acordeonista com antecedência pois, na altura, a procura era muita.
Chegado o dia, esperava-se o artista, quase em clima de festa. Bebido o copito da praxe, dava-se início à primeira ronda (uma volta pela aldeia, a tocar). Aos primeiros acordes, instalava-se um clima de boa disposição, com muita gente a espreitar às portas e às janelas, para ouvirem as «modas» que na altura faziam as delícias de todos. O acordeão quase falava, tal era o empenhamento do intérprete.
Depois de correr a aldeia a tocar para chamar os participantes, sentava-se no Terreiro de S. Francisco num lugar de destaque, e tocava…tocava…
Era então que os primeiros pares avançavam entusiasmados, bamboleando-se para cá e para lá, com o coração a palpitar, muitas vezes de amor; um amor que para alguns já estava em gestação e era ali que se concretizava. A música, a proximidade, a descontracção, ajudavam a desinibir e a dar o primeiro passo.
Ainda me lembro da habilidade de alguns pares, a deslizarem ao som de toda a espécie de ritmos, com as saias esvoaçando, e os pés quase a não tocarem o chão. Tudo isto, alem do divertimento, era também uma forma de convívio. Havia um ou outro que, para ganhar coragem, bebia um copito a mais, para assim se desinibir e então se divertir.
O acordeão fazia milagres! Movimentava toda a aldeia, que se concentrava no Largo (de S. Francisco). Uns a dançar, outros a ver e a gozar o momento. Era um divertimento até às tantas.
A noite terminava com os corpos moídos, mas felizes. Tudo acabava com mais uma ronda, já altas horas. Já em casa, no silêncio, ouvia-se não só o som inconfundível e bonito do acordeão, mas também um coro de vozes cantando entusiasmadas. Era uma sensação boa, o corpo pedia mais, apesar do cansaço, e o coração estava feliz.
Era tempo de terminar, e acompanhar o acordeonista ao meio de transporte, que o levaria ao seu destino.
O dia seguinte era dia de trabalho, que às vezes era árduo. Provavelmente na semana seguinte havia mais.
Que tal uma experiência destas um dia destes?...
Um bailarico dos antigos, entenda-se, não daqueles que se fazem agora nas discotecas, tudo ao molho, com ruído ensurdecedor, com copos cheios de álcool e, por vezes, outras substâncias à mistura. Nessa altura, não precisavam disso para serem felizes.
Chegava-lhes um acordeão, um acordeonista, e espaço ao ar livre.
Só mais tarde, já a tender para os costumes de hoje, se começaram a usar espaços fechados.
Havia um grupo que tinha a tarefa de contratar o acordeonista com antecedência pois, na altura, a procura era muita.
Chegado o dia, esperava-se o artista, quase em clima de festa. Bebido o copito da praxe, dava-se início à primeira ronda (uma volta pela aldeia, a tocar). Aos primeiros acordes, instalava-se um clima de boa disposição, com muita gente a espreitar às portas e às janelas, para ouvirem as «modas» que na altura faziam as delícias de todos. O acordeão quase falava, tal era o empenhamento do intérprete.
Depois de correr a aldeia a tocar para chamar os participantes, sentava-se no Terreiro de S. Francisco num lugar de destaque, e tocava…tocava…
Era então que os primeiros pares avançavam entusiasmados, bamboleando-se para cá e para lá, com o coração a palpitar, muitas vezes de amor; um amor que para alguns já estava em gestação e era ali que se concretizava. A música, a proximidade, a descontracção, ajudavam a desinibir e a dar o primeiro passo.
Ainda me lembro da habilidade de alguns pares, a deslizarem ao som de toda a espécie de ritmos, com as saias esvoaçando, e os pés quase a não tocarem o chão. Tudo isto, alem do divertimento, era também uma forma de convívio. Havia um ou outro que, para ganhar coragem, bebia um copito a mais, para assim se desinibir e então se divertir.
O acordeão fazia milagres! Movimentava toda a aldeia, que se concentrava no Largo (de S. Francisco). Uns a dançar, outros a ver e a gozar o momento. Era um divertimento até às tantas.
A noite terminava com os corpos moídos, mas felizes. Tudo acabava com mais uma ronda, já altas horas. Já em casa, no silêncio, ouvia-se não só o som inconfundível e bonito do acordeão, mas também um coro de vozes cantando entusiasmadas. Era uma sensação boa, o corpo pedia mais, apesar do cansaço, e o coração estava feliz.
Era tempo de terminar, e acompanhar o acordeonista ao meio de transporte, que o levaria ao seu destino.
O dia seguinte era dia de trabalho, que às vezes era árduo. Provavelmente na semana seguinte havia mais.
Que tal uma experiência destas um dia destes?...
Texto de autoria de Maria Dulce Martins
Hoje, ao visitar este nosso espaço casteleirense, deparei-me com um post que nos tráz à memória momentos únicos de uma infância vivida há já alguns anos, onde a diversão era bem diferente do tempo actual. Mais saudáve? mais divertida? Não quero entrar por aí, porque acho que cada tempo é marcado por vivências próprias, que acabam sempre por deixar as suas marcas. Ainda bem que assim é, pois como diria o poeta e o cantor "MUDAM-SE OS TEMPOS (...)/ TODO O MUNDO É COMPOSTO DE MUDANÇA...
ResponderEliminarMas, ainda a propósito do acordeão, lembra-me aqui a minha memória ao lado, um nome bem conhecido desse tempo - o ti LUÍS CUNHA, da Quarta Feira. Este homem, que animou muitos bailes na nossa terra, falava (porque o cantar era difícil)com a sua concertina, ao mesmo tempo que o baile aquecia! Quero deixar uns versos sobejamente ouvidos, que em determinado momento da canção eram mais ao menos assim: "AI QUE ME RATA OS FOLHOS TODOS,AI QUE ME RATA A CONCERTINA". Bem, cantados/ditos por este "animador de concertos", eram o máximo!
Joaquim Gouveia