A propósito da notícia da iluminação do património, que aplaudo, lembrei-me de umas notas que há tempos escrevi sobre uma das «fontes», o Chafariz das Duas Bicas, que fica mesmo à porta da minha antiga casa.
A sua água, segundo os mais velhos, era de uma qualidade excelente.
Como disse, esse chafariz foi, durante muitos anos, meu vizinho muito próximo.
Sempre gostei, e até quase venerei, aquele chafariz.
Quase o sentia só meu.
Fez-me companhia nos bons e nos maus momentos.
Junto dele brinquei, fui feliz, amei, chorei – enfim, foi meu companheiro de todos os momentos.
O que mais recordo, e recordo com muita ternura, é o momento de deitar.
Sabia-me muito bem no silêncio da noite (o chafariz era mesmo em frente ao meu quarto), ouví-lo e ser embalada suavemente ao som da cadência monótona e calma da água a correr para dentro do pio (era assim que se chamava), eternamente…
E eternamente porquê?
Porque, ao acordar, lá continuava o mesmo som da água, com a mesma cadência, sempre pronta a dar-me os bons dias.
Assim.
Vinte e quatro sobre vinte e quatro horas.
Lembro-me muitas vezes daquele chafariz.
E também do sussurrar dos diálogos que aconteciam enquanto os cântaros enchiam.
Como não havia de lembrar?
Afinal, foi lá que cresci e me fiz mulher.
As minhas raízes estão lá bem fundas.
As minhas emoções também.
As recordações estão guardadas numa gaveta especial do meu cérebro.
E, claro, num lugar de eleição do meu coração.
Há coisas de que pouco se fala, mas estão e estarão sempre connosco.
Não foram afinal essas vivências que nos deram a personalidade que temos hoje?
Gostei de o ver a mostrar-se assim destacado e vaidoso, por aquele mimo que o realça ainda mais.
Até sempre, meu amigo chafariz.
Texto de autoria de Maria Dulce Martins
A sua água, segundo os mais velhos, era de uma qualidade excelente.
Como disse, esse chafariz foi, durante muitos anos, meu vizinho muito próximo.
Sempre gostei, e até quase venerei, aquele chafariz.
Quase o sentia só meu.
Fez-me companhia nos bons e nos maus momentos.
Junto dele brinquei, fui feliz, amei, chorei – enfim, foi meu companheiro de todos os momentos.
O que mais recordo, e recordo com muita ternura, é o momento de deitar.
Sabia-me muito bem no silêncio da noite (o chafariz era mesmo em frente ao meu quarto), ouví-lo e ser embalada suavemente ao som da cadência monótona e calma da água a correr para dentro do pio (era assim que se chamava), eternamente…
E eternamente porquê?
Porque, ao acordar, lá continuava o mesmo som da água, com a mesma cadência, sempre pronta a dar-me os bons dias.
Assim.
Vinte e quatro sobre vinte e quatro horas.
Lembro-me muitas vezes daquele chafariz.
E também do sussurrar dos diálogos que aconteciam enquanto os cântaros enchiam.
Como não havia de lembrar?
Afinal, foi lá que cresci e me fiz mulher.
As minhas raízes estão lá bem fundas.
As minhas emoções também.
As recordações estão guardadas numa gaveta especial do meu cérebro.
E, claro, num lugar de eleição do meu coração.
Há coisas de que pouco se fala, mas estão e estarão sempre connosco.
Não foram afinal essas vivências que nos deram a personalidade que temos hoje?
Gostei de o ver a mostrar-se assim destacado e vaidoso, por aquele mimo que o realça ainda mais.
Até sempre, meu amigo chafariz.
Texto de autoria de Maria Dulce Martins
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