04/07/2012


Volvidos que são 38 anos, após aquela radiosa manhã de 25 de Abril de 1974 que nos devolveu a liberdade, a democracia e a igualdade, parece quererem enevoá-la, valendo-se da tão falada crise e do esquecimento das promessas feitas em discursos empolgantes com palavras maviosas que encantam os ouvidos e extasiam o espírito, cativando e convencendo quem as ouviu e muito mais a quem diretamente foram dirigidas.
E se é verdade que tudo isto é no auge da euforia, das promessas em troca de benesses, não menos verdade é que o homem, cego na vaidade e envaidecido com a glória do poder, a pouco e pouco, aquando já no poder, se vai esquecendo das promessas feitas nas campanhas eleitorais. E a acontecer, a frustração é para quem acreditou e a mentira para quem prometeu e não cumpriu.
Nada agradável é, mas tudo isto acontece e se ouve, dia a dia, da boca dos mais eminentes políticos aos mais humildes.
Sendo assim, urge perguntar:
Onde está o cumprimento das promessas feitas em plenas campanhas eleitorais? Onde está a verdade e a solidariedade? Nas palavras vãs, saídas da boca dum governante que hoje diz sim e amanhã diz não, escudando-se na famigerada crise, para, em cada dia e após dia a dia, impor mais e mais austeridades sobre a já pesada austeridade imposta pela Troika?
Não, assim não. Basta!... Quem está no poder não deve esquecer-se do que assinou no acordo com a Troika, sinal de que não deverá ir além do que foi assinado. Caso contrário, é inverter a verdade e a solidariedade que não são só palavras lindas e cativantes. São muito mais do que simples palavras, são palavras com algo de místico que a troco não devem levar alguém a aceitar a glória e muito menos o poder ditatorial.
Ao serem retirados os subsídios de Férias e de Natal, a quererem baixar os salários, com os aumentos do desemprego, dos preços dos produtos alimentares, dos combustíveis, da água, luz, gás, taxas moderadoras, consultas, análises, radiografias, transportes, etc., etc.; com o fecho de escolas, centros de saúde, tribunais e outros serviços; com a extinção de freguesias; com o abandono do cultivo das terras por falta de incentivos e apoio governamental, provocando mais e mais empobrecimento e desertificação no interior do país, há que perguntar: O que é isto? É para manter e avivar a identidade e as raízes dum povo? É Solidariedade? Não. É uma imposição, resultante de abuso do poder, porque solidariedade é dar e não retirar regalias sociais, em especial, aos mais carenciados; solidariedade é dar trabalho a quem quer trabalhar; solidariedade é o 25 de Abril de 1974, com liberdade, democracia e igualdade; solidariedade é algo ainda mais, é dar lenitivo a quem tem fome; solidariedade é dar a alguém que está doente, triste, através de carinho, dum gesto ou dum sorriso, a alegria de viver; solidariedade é ajudar, sem ninguém ver e saber, o amigo e o inimigo, o pobre e o rico, o doente e o são, todo e qualquer ser que necessite duma palavra amiga e tranquilizadora; solidariedade é um dos muitos degraus da vida que leva o homem a ser Homem e a alcançar uma Vida para o Bem, partilhando com o seu irmão a solidariedade de um pedaço do seu pão.              
Por último, queremos dizer ao Sr. 1.º Ministro, Dr. Passos Coelho, que, na verdade, “Os portugueses já não estão perante o abismo…”, porque já “estão no fundo do abismo a olharem para cima”, na esperança de que alguém, com bom senso e solidariamente, os salve, porquanto “a paciência dos portugueses” já se esgotou.



 
"Daqui Viseu", espaço de opinião de autoria de Daniel Machado
                                 

Sem comentários :

Enviar um comentário