O mês de Junho é por excelência o
mês do mais insigne e genial vate português, Camões e dos três mais populares
santos, St.º António, S. João e S. Pedro, assim:
10 de Junho - Camões
13 de Junho - St.º António
24 de Junho - S. João
29 de Junho - S. Pedro
É sobre o 10 de Junho e Camões que
iremos tecer algumas considerações, lembrando que até ao dia 24 de Abril de
1974, o 10 de Junho era “DIA DE CAMÕES, DE PORTUGAL E DA RAÇA”, passando depois
a ser considerado o “DIA DE PORTUGAL, DE CAMÕES E DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS,”
espalhadas por todo o mundo.
De Camões, pena é que grande parte
da sua biografia ande envolta em sombras e cuja verdade histórica esteja longe
de se conhecer em definitivo. E se algo de muito e bom chegou até nós,
inverosímil, porém, é que a sua data de nascimento, de naturalidade e de outros
acontecimentos não sejam ao certo conhecidos, já que o imortal épico português
tal não merecia. Assim, diz-se que, numa breve biografia que até nós chegou,
“Camões, de nome Luís Vaz de Camões, filho de Simão Vaz de Camões e de Ana de
Sá e Macedo, terá nascido em 1524 ou 1525 e Lisboa e Coimbra disputam entre si
o berço do seu nascimento.
De 1531 a 1541 terá ido a estudar
Humanidades para Coimbra, cuja licenciatura não concluiu por se ter envolvido
em vários desacatos, o que provocou a sua ida para Lisboa. Em Lisboa, trocando
os estudos pelo ambiente da Corte de D. João III, foi afastado da Corte, onde
permaneceu de 1542 a 1545 e desterrado para o Ribatejo, por, diz-se, morrer de
amores pela formosa Dona Catarina de Ataíde, a quem ele imortalizou sob o
anagrama de Natércia. Continuando com uma vida leviana e os planos amorosos
terem ido por água abaixo, ao ver-se desiludido com tudo isto, solicita ao Rei
para ir para a guerra no Norte de África. Aceite o pedido, em 1547 vai para o
Norte de África, onde na batalha não morre, mas tem a infelicidade de ficar sem
o olho direito.
Finda a missão em África, três
anos mais tarde, regressa a Lisboa, onde não tarda em voltar à vida de boémio e
envolvendo-se novamente em desacatos, em 16 de Junho de 1552 fere, numa rixa,
Gonçalo Borges, funcionário da Corte, o que lhe valeu um ano de prisão, onde
diz-se ter composto o primeiro Canto de “Os Lusíadas.”
Libertado, em 7 de Março de 1553,
por carta régia de perdão, assinada por D. João III, no mesmo ano é enviado
para a India com o resto da Armada. No caminho marítimo para a India conhece
diversas civilizações e culturas, adquirindo assim muita experiência para
escrever os poemas.
Em Goa participa em várias
expedições, continua a escrever “Os Lusíadas” e parte depois para Macau, onde
numa gruta, vivendo em condições horríveis, escreveu a maior parte de “Os
Lusíadas”.
Em Macau ainda, foi Provedor dos
Defuntos e Ausentes. Acusado de irregularidades, prenderam-no e sob prisão volta
para Goa. Nesta viagem teve um trágico naufrágio de que saiu são e salvo, bem
como “Os Lusíadas.”
Chegado a Goa, posto em liberdade,
graças à influência do Conde de Redondo, teve logo de sair e voltar para
Portugal, mas como não havia barcos para Portugal, parte de Goa para
Moçambique, para depois seguir para Lisboa.
Em Moçambique, continuando a viver
na miséria, encontrou lá um velho amigo de nome Diogo do Couto que o traz de
volta a Lisboa (1569).
Já em Lisboa goza os seus últimos
anos de vida com dificuldade e, já doente e a viver de esmolas, em 1572
consegue publicar “Os Lusíadas”, graças á influência de vários amigos, junto do
rei D. Sebastião.
Como recompensa régia é-lhe
concedida uma tença anual de 15.000 réis, uma mísera esmola que não o impediu
de viver na miséria durante os restantes anos de vida e, na miséria, viria a
morrer de doença cardíaca, no dia 10 de Junho de 1580, em Lisboa, cujo enterro
foi pago por uma Instituição de Caridade, a Companhia dos Cortesãos.”
Com “Os Lusíadas” publicados,
personificando primorosamente a Raça Lusa e tão magistralmente neles narrados e
cantados os grandes e heroicos feitos dos Portugueses, Camões, ilustre vate
português, após privações e conturbada vida, incompreensivelmente, não tendo
sido lembrado em vida, na morte, só em 10 de Junho de 1933 se comemorou pela
primeira vez, a nível nacional, o 10 de Junho, como “DIA DE CAMÕES”, para
depois passar a ser “DIA DE CAMÕES, DE PORTUGAL E DA RAÇA”.
E como, em todos os anos, esta
celebração vem sendo habitual, Lisboa, designada pelo Sr. Presidente da
República, foi a sede das comemorações do dia 10 de Junho de 2012, o então “Dia
DE PORTUGAL, DE CAMÕES E DAS COMUNIDADES PORTUGUESAS”, ano em que decorridos
são 432 anos sobre a sua morte, Camões, militar valoroso, poeta insigne, bem
mereceu tão honrosa distinção, pecando
por tardia, porque foi e é, sem dúvida, o Príncipe dos poetas, jamais igualado
e frustradamente imitado, a não ser nos transes da ventura, como atesta a
poesia dum outro grande poeta que foi Bocage, abaixo transcrita:
A CAMÕES
Camões, grande Camões, quão
semelhante
Acho teu fado igual ao meu, quando
os cotejo!
Igual causa nos fez, perdendo o
Tejo
Arrostar c’o sacrílego gigante;
Como tu, junto ao Ganges
sussurrante,
Da penúria cruel no horror me
vejo;
Como tu, gostos vãos, que em vão
desejo,
Também carpindo estou, saudoso
amante.
Ludíbrio, como tu, da sorte dura,
Meu fim demando o Céu, pela
certeza
De que só terei paz na sepultura.
Modelo meu tu és… mas - oh,
tristeza!...
Se te imito nos transes de
ventura,
Não te imito nos dons da natureza!
Se bem que este soneto traduz a
claro o valor e enaltecimento do autor de “Os Lusíadas”- Epopeia Nacional -
que, numa antevisão maravilhosa, cantou e esculpiu com letras de ouro toda a
glória da “Ocidental Praia Lusitana”, não nos poderemos furtar a dizer que, se
“Os Lusíadas”, com a tessitura do condigno poema épico que é, o imortalizaram e
o tornaram sobejamente bem conhecido em todo o mundo, não é menos digno de
imortalidade como lírico. Nesta qualidade foi também exímio no emprego da
métrica tradicional de redondilha e aperfeiçoou genialmente as suas formas que
Sá de Miranda importara.
Para corroborar esta nossa
afirmação, eis, ao acaso, um dos muitos sonetos que nos legou:
ALMA MINHA…
Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste!
Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente,
Que já nos olhos meus tão puro viste.
E, se vires que pode merecer-te
Algũa cousa a dor que me ficou
Da mágoa sem remédio de perder-te,
Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te
"Daqui Viseu", espaço de opinião de autoria de Daniel Machado
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