Investigar a
história e as estórias do Casteleiro revela-se uma tarefa rica de episódios Quadros do quotidiano de uma aldeia rural
recheada de vida e onde tudo parece ter acontecido. Hoje falamos de “embusteiros”.
Corria o ano
de 1724 na aldeia, então com 500 habitantes. Mas a rotina dos primeiros meses
desse ano tinha sido alterada com a chegada de um homem de nome José Bernardo.
Chegou com mapas e prometeu descobrir um tesouro: nada mais nada menos que
treze arrobas e meia de ouro. Fascinados, os nossos antepassados arregaçaram
mangas e toca de cavar em busca do tesouro.
Mas os meses
passavam e nada de tesouro. E o tal de José Bernardo a dar ordens a toda a
gente, vivendo à custa dos casteleirenses. Até ao dia em que a coisa estalou. O
homem era um impostor e como tal merecia uma boa sova: “enfadados de
trabalharem sem proveito lhe deram algumas pancadas e o ameaçaram com mais”.
Dito e feito. E de seguida uma queixa apresentada em Sortelha a um tal Manuel
Mendes Vella, decerto uma autoridade. A estória chega aos nossos dias graças a
essa queixa que daria origem a um inquérito conduzido por Frei Manuel Godinho,
capelão em Castelo Branco.
É o
inquiridor que escreve a 14 de Maio de 1724: “Durante 3 ou 4 meses ter um embusteiro
que se nomeava José Bernardo o qual trazia enganado aquele povo e de alguns
lugares vizinhos prometendo-lhes descobrir
naquele sitio um tesouro de treze arrobas e meia de ouro em contas
preciosas . Durante aquele tempo fez trabalhar aquela simples gente de dia e de
noite cavando, derribando penedos, fazendo-lhes obrigações por escrito, que eu
vi, para o cumprirem. Também fazia algumas curas com palavras que não se lhe
entendiam e experiencias com ferros em brasa.” Entretanto, José Bernardo sumiu
da região.
O que os
casteleirenses de então não sabiam e que hoje nós sabemos, é que o tal José Bernardo era um “embusteiro”
profissional. A 23 de Julho de 1723, era
dado como cirurgião, casado com Ana Mendes e que por “culpas” tinha sido condenado ao degredo pela Inquisição de Coimbra por quatro anos em Castro Marim. Mas, qual
degredo, a 19 de Outubro do mesmo ano é citado pela Misericórdia de Castelo
Branco como homem solteiro a caminho da vila de Múrcia do arciprestado de
Braga.
Pelo
caminho, fez uma paragem no Casteleiro. E pôs toda a gente à procura das
arrobas de ouro.
Casteleiro,
um passado de história e estórias!
"Reduto", crónica de António José Marques
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