21/03/2014

A busca do ouro em 1724


Investigar a história e as estórias do Casteleiro revela-se uma tarefa rica de episódios  Quadros do quotidiano de uma aldeia rural recheada de vida e onde tudo parece ter acontecido. Hoje falamos de “embusteiros”.
Corria o ano de 1724 na aldeia, então com 500 habitantes. Mas a rotina dos primeiros meses desse ano tinha sido alterada com a chegada de um homem de nome José Bernardo. Chegou com mapas e prometeu descobrir um tesouro: nada mais nada menos que treze arrobas e meia de ouro. Fascinados, os nossos antepassados arregaçaram mangas e toca de cavar em busca do tesouro.
Mas os meses passavam e nada de tesouro. E o tal de José Bernardo a dar ordens a toda a gente, vivendo à custa dos casteleirenses. Até ao dia em que a coisa estalou. O homem era um impostor e como tal merecia uma boa sova: “enfadados de trabalharem sem proveito lhe deram algumas pancadas e o ameaçaram com mais”. Dito e feito. E de seguida uma queixa apresentada em Sortelha a um tal Manuel Mendes Vella, decerto uma autoridade. A estória chega aos nossos dias graças a essa queixa que daria origem a um inquérito conduzido por Frei Manuel Godinho, capelão em Castelo Branco.
É o inquiridor que escreve a 14 de Maio de 1724: “Durante 3 ou 4 meses ter um embusteiro que se nomeava José Bernardo o qual trazia enganado aquele povo e de alguns lugares vizinhos  prometendo-lhes  descobrir  naquele sitio um tesouro de treze arrobas e meia de ouro em contas preciosas . Durante aquele tempo fez trabalhar aquela simples gente de dia e de noite cavando, derribando penedos, fazendo-lhes obrigações por escrito, que eu vi, para o cumprirem. Também fazia algumas curas com palavras que não se lhe entendiam e experiencias com ferros em brasa.” Entretanto, José Bernardo sumiu da região.
O que os casteleirenses de então não sabiam e que hoje nós sabemos,  é que o tal José Bernardo era um “embusteiro” profissional.  A 23 de Julho de 1723, era dado como cirurgião, casado com Ana Mendes e que por “culpas” tinha sido condenado ao degredo pela Inquisição de Coimbra por quatro anos em Castro Marim. Mas, qual degredo, a 19 de Outubro do mesmo ano é citado pela Misericórdia de Castelo Branco como homem solteiro a caminho da vila de Múrcia do arciprestado de Braga.
Pelo caminho, fez uma paragem no Casteleiro. E pôs toda a gente à procura das arrobas de ouro.

Casteleiro, um passado de história e estórias!






"Reduto", crónica de António José Marques



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