Penso muitas vezes nesse tempo
longínquo.
Portugal era um país ignorado e vivia
nas trevas.
A sua gente, pelo menos a grande maioria,
era analfabeta e demasiado limitada no conhecimento.
As pessoas desconheciam que havia mundos
diferentes e outras culturas.
Viviam oprimidas e subjugadas.
Havia depois os senhores da terra.
Esses, apesar de serem os senhores,
pouco mais sabiam.
Sabiam, sim, explorar os que dependiam
deles.
A escuridão era total.
No País, na nossa aldeia, assim como nos
cérebros.
Uma das consequências dessa situação
tinha a ver com a falta de higiene nas ruas e nas pessoas – o que era tido como
um estado normal.
A escola era vedada aos filhos, porque
estes faziam falta nas tarefas do campo.
Se fossem do sexo feminino a coisa piorava
um pouco.
Havia a ideia de que o conhecimento
levava a maus caminhos.
Achava-se que quanto mais se sabia,
maior seria a confusão.
O mais grave, é que ninguém se apercebia
de que estava ser enganado.
Ninguém se dava conta de que poderia ser
doutra forma; que seria benéfico em todos os aspectos que as coisas fossem
diferentes.
Essa informação não lhes chegava.
A «escuridão» tinha a primazia.
Em termos de higiene: a nossa aldeia estava
enxameada com currais, galinheiros e palheiras com animais, que desaguavam os seus
detritos para as ruas.
Os habitantes procuravam o campo ou um
local escondido atrás de qualquer obstáculo, um sítio para fazerem as
necessidades fisiológicas, porque as casas, mesmo as mais ricas, não tinham
casas de banho.
Durante a noite, usavam-se baldes que
depois, de manhã, eram despejados para a rua que todos pisavam.
Vivia-se e respirava-se um cheiro
nauseabundo, que ninguém estranhava.
Era assim. Era normal.
A falta de conhecimento e a escuridão em
que se vivia, convinha aos governantes e a muitos outros que viviam à sombra
dessa escuridão e dessa ignorância.
Alguém quer voltar atrás?
Abraço.
Dulce Martins
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