26/05/2014

Quem se lembra?

O Burro de cangalhas
Esta imagem representa uma época não muito distante dos nossos dias mas, o suficiente, para que a juventude de hoje não tenha disso recordação.
Animal modesto, meigo, de olhar doce e andar pachorrento. Na nossa aldeia, ele fazia parte de quase todos os agregados familiares. Num tempo em que todas as famílias expurgavam da terra o máximo que esta lhes podia dar, o burro assumia um papel importantíssimo: transportava bens e pessoas e ainda, como força motriz para puxar a nora, tirando a água do poço para a rega da horta.
Será interessante dar a conhecer o “equipamento” com que este asno se apresenta: Sobre a cabeça, exibe o «cabresto» – feito de cabedal e, juntamente com a «rédea» (corda de sisal) servem para o homem o guiar, ou simplesmente o prender a uma árvore ou num local onde possa pastar. Sobre o dorso ostenta uma «albarda», feita de cabedal (à frente e atrás) e pano-cru, cheio de palha muito bem acomodada de modo a constituir um assento bem cómodo para que o dono se sinta bem, quando caminha de casa até ao chão. Para segurar a «albarda» utiliza-se uma «silha», em forma de cinto, apertando esta, à barriga do animal. As «cangalhas» (na figura) assentavam sobre a «albarda». Considerado um assessório de grande utilidade, serviam para transportar o estrume, e outros bens. Sim, porque não havia os tratores que hoje há!...
Acrescento ainda o «burnil» (a gravata do burro), feito de cabedal e pano-cru, e, uma vez colocado sobre o pescoço do animal e com a extensão de umas cordas, servia para atrelar o arado ou a «nora».
Todos estes «arreios» eram feitos por medida, por um «albardeiro» que, de tempos a tempos, deslocava-se de terra em terra, fazem arranjos nas «albardas» usadas e tirando as medidas para as encomendas que mais tarde haveria de fazer. Normalmente estas entregas eram feitas ao domingo, logo pela manhã e, diz-nos quem sabe, que as «albardas» custavam um dinheirão!
O último «albardeiro» visto pelo Casteleiro, vinha de Stº Estêvão. Era conhecedor de uma arte rara! Por vezes as «albardas» estavam a necessitar de arranjo e o «albardeiro» não havia maneira de aparecer!...Hoje é considerada uma das profissões já extinta!


NOTA: O negócio dos burros geralmente estava nas mãos dos ciganos. Quando o comprador tentava fazer negócio, o animal apresentava-se na melhor forma. O pior era nos dias seguintes!...






"A Minha Rua", Joaquim Luís Gouveia

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