O Burro de cangalhas |
Esta imagem
representa uma época não muito distante dos nossos dias mas, o suficiente, para
que a juventude de hoje não tenha disso recordação.
Animal modesto,
meigo, de olhar doce e andar pachorrento. Na nossa aldeia, ele fazia parte de
quase todos os agregados familiares. Num tempo em que todas as famílias
expurgavam da terra o máximo que esta lhes podia dar, o burro assumia um papel
importantíssimo: transportava bens e pessoas e ainda, como força motriz para
puxar a nora, tirando a água do poço para a rega da horta.
Será
interessante dar a conhecer o “equipamento” com que este asno se apresenta:
Sobre a cabeça, exibe o «cabresto» – feito de cabedal e, juntamente com a «rédea»
(corda de sisal) servem para o homem o guiar, ou simplesmente o prender a uma
árvore ou num local onde possa pastar. Sobre o dorso ostenta uma «albarda»,
feita de cabedal (à frente e atrás) e pano-cru, cheio de palha muito bem
acomodada de modo a constituir um assento bem cómodo para que o dono se sinta
bem, quando caminha de casa até ao chão. Para segurar a «albarda» utiliza-se
uma «silha», em forma de cinto, apertando esta, à barriga do animal. As «cangalhas»
(na figura) assentavam sobre a «albarda». Considerado um assessório de grande
utilidade, serviam para transportar o estrume, e outros bens. Sim, porque não
havia os tratores que hoje há!...
Acrescento
ainda o «burnil» (a gravata do burro), feito de cabedal e pano-cru, e, uma vez
colocado sobre o pescoço do animal e com a extensão de umas cordas, servia para
atrelar o arado ou a «nora».
Todos estes
«arreios» eram feitos por medida, por um «albardeiro» que, de tempos a tempos,
deslocava-se de terra em terra, fazem arranjos nas «albardas» usadas e tirando
as medidas para as encomendas que mais tarde haveria de fazer. Normalmente
estas entregas eram feitas ao domingo, logo pela manhã e, diz-nos quem sabe,
que as «albardas» custavam um dinheirão!
O último «albardeiro»
visto pelo Casteleiro, vinha de Stº Estêvão. Era conhecedor de uma arte rara!
Por vezes as «albardas» estavam a necessitar de arranjo e o «albardeiro» não
havia maneira de aparecer!...Hoje é considerada uma das profissões já extinta!
NOTA: O
negócio dos burros geralmente estava nas mãos dos ciganos. Quando o comprador
tentava fazer negócio, o animal apresentava-se na melhor forma. O pior era nos
dias seguintes!...
"A Minha Rua", Joaquim Luís Gouveia
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