Em cima da bicicleta e ao som da gaita
chamava os clientes que pretendiam as facas e tesouras afiadas, ou até os
guarda chuvas arranjados.
Era o amola tesouras.
Reza o ditado que, quando passava e com
a sua gaita tocava a melodia emblemática, trazia chuva no dia seguinte.
“A música da gaita, antigamente diziam que
trazia chuva e batia certo, mas agora desde que começaram a subir para a Lua, estragaram
tudo. Está tudo estragado e tudo mudado”, afirmava o protagonista que, ao longo
dos anos, fez do Casteleiro um ponto obrigatório da sua penosa rota.
O seu transporte era uma bicicleta que
tinha como apetrecho uma roda que amolava tudo o que as pessoas precisassem.
Há muitos anos atrás, cobrava 16 tostões
por amolar uma tesoura. Agora, e com a raridade desta profissão, quando aparece
na sua cíclica peregrinação, quase cinquenta anos depois, leva dez euros.
Ainda assim o amola tesouras justifica
“a inflação”, ao afirmar que “é o que vai dando para viver, porque é chapa
ganha chapa gasta”.
Com as aldeias a ficarem desertas, o som
da gaita ecoa por entre as ruelas esguias e apertadas e pela Rua Direita (que é
torta) anunciando, não a chuva que há-de vir “quando Deus quiser”, mas sim a
presença do artesão portador de uma arte secular que, hoje em dia, está em vias
de extinção.
Joaquim Luís Gouveia
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