Durante
a minha meninice, pelo Casteleiro vi passar, por alturas do final do Verão,
estas habilidosas mãos que, das vergas de salgueiro, cortadas antes do nascer
do sol, nas margens dos ribeiros que refrescam esta linda terra, produzirem
verdadeiros rendilhados à volta de um garrafão ou de uma simples garrafa.
Empalhador
de Garrafões era sinónimo de vida. Quantas vezes estes objetos que serviam para
transportar vinho, tão necessário a uma “jorna mais produtiva” (dito popular
com o qual não concordo), eram rebuscados dos sótãos, por entre as teias de
aranha, que o tempo se encarregou de produzir e o caniço onde mais tarde as
chouriças irão secar.
No
Casteleiro não havia tal sabedoria! Havia outras, dirão os leitores! Claro que
sim.
À
semelhança de outros artesãos também este fazia uma rota algo distante e
bastante penosa, no tempo. Saía da sua terra, e pelas aldeias onde passava,
permanecia o tempo suficiente de satisfação total dos seus clientes. Não havia
garrafão a necessitar de ser devolvido à sua serventia que não fosse
minuciosamente reparado. Hoje chamar-se-ia reciclagem e antigamente? A
“necessidade aguçava o engenho”. Isso mesmo, a miséria era tanta que nada se
podia deitar fora. Como o vidro, “de velho vira a novo”, então aí temos um novo
objeto, desta vez, com novo revestimento, prontinho a sair à rua (neste caso, à
mesa), especialmente em dia de festa na aldeia ou na romaria mais próxima.
Podemos
questionar onde trabalhava este artesão durante o seu périplo pelas aldeias?
Muito simples: onde quer que houvesse trabalho, haveria, certamente, uma loja,
bem fresca, onde esta hábil visita faria jus à sua arte de trabalhar o vime ou
a verga.
O empalhador levava “uma vida de cigano”,
andava de terra em terra, procurando, também este, o sustento de que tanto precisava
para alimentar os sete filhos que deixara na terra, junto com a mãe, ajudando
na lide da casa mas, sobretudo, nos trabalhos do campo que, esses, não podiam
esperar pela vinda do progenitor.
Com a chegada da geração do plástico, esta arte
foi desaparecendo, dando lugar ao sintético produto que, para além de prático,
nada tem de belo, nem tão pouco o poder térmico do vime conseguiu conservar.
A arte de empalhar garrafões e garrafas de
vidro é algo que a geração do plástico eliminou completamente.
Joaquim Luís Gouveia
Deste e doutros visitantes, eu tambem me lembro! Parece tão lonlínqua esta realidade , e afinal foi talvez há pouco mais de 30 ou 40 anos!(no século passado,bem sei.....)!!!!memórias que ficam.H.F.
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