Quando hoje falamos de Festa, estamos a falar da festa
popular. Durkheim, sobre o fenómeno festivo, afirmava: ”Não pode haver sociedade
que não sinta a necessidade de conservar e reafirmar, a intervalos regulares,
os sentimentos e ideias colectivas que lhe proporcionam a sua unidade e
personalidade”.
A raiz religiosa da Festa é, por outro lado, um facto histórico.
E a evolução da Festa é indissociável da evolução religiosa ao longo dos tempos.
Se em séculos passados as festas cristãs coincidam com as festas pagãs,
fortalecendo a cultura religiosa, hoje o tempo criou novos laços, novas
fronteiras. A sociedade de hoje organiza-se muito para além da sua componente
religiosa ou litúrgica. É uma nova organização do exercício do poder onde o
elemento religioso obviamente continua presente.
Na antiga Roma a procissão começava no Capitólio, atravessava
o Fórum e terminava no Circo, onde tinham lugar os jogos, uma arena de entretenimento.
Hoje o percurso da procissão é escolhido pelo povo e remonta à tradição e à
memória. E é esse povo que transporta os “seus” santos, numa manifestação de fé
ancestral. Ninguém tem poder ou capacidade para alterar este facto. E se alguém
pensa que tem esse poder, está profundamente enganado. O passado assim nos
ensina.
No nosso tempo, o sagrado e o profano estão bem definidos.
Não se atropelam, nenhum deles se sobrepõe ao outro, convivem diariamente com
ética e, sobretudo, devem fazê-lo com bom senso.
Citando Rousseau: “Plantai no meio de uma praça um poste
coroado de flores, juntai aí o povo e tereis uma festa”. Porque é o povo que
faz, organiza e vive a “sua” festa.
"Reduto", António José Marques
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