“Não só de pão
vive o homem…mas também de uma boa aguardente feita na tradicional alguitarra,
acompanhada de um belo figo seco ”.
Esta frase era frequente ouvir-se na tradicional
taberna do ti Zé da velha (assim conhecida por todo o povo, sem que o próprio
se aborrecesse com tal forma de tratamento). Ali, entre um copo e uma bela
cartada, falava-se de tudo um pouco.
Apesar das vindimas já irem longe e o vinho novo ir
minguando nas adegas quase desertas, hoje trago à vossa lembrança o tradicional
fabrico da aguardente, por terras do Casteleiro.
Tão normal como fazer o vinho, era o fabrico de aguardente no alambique
de cobre (aqui chamado de alguitarra), do tempo dos nossos avós. E, porque
eram poucas as pessoas que tinham a sua própria alguitarra, era muito frequente
cobrar por se fazer aguardente no alguitarra alugada. Este pagamento, por
vezes, era feito através de dias de trabalho a prestar em terras do
proprietário, servindo assim, como moeda de troca pela utilização deste
utensílio de cobre, ou então um favor que ficava sempre por pagar…
O alambique ficava no pátio de uma casa, à medida que os moradores
combinavam os dias ou as noites para fazer a aguardente. Normalmente optava-se
pelo tempo chuvoso para, à volta de um bom lume, indispensável a uma boa
destilação, se atiçarem conversas, molhadas com um belo vinho, acompanhado de uma
bela assadura, ofertada pelo dono da aguardente que haveria de sair deste
popular instrumento.
Para uma boa
destilação, é necessário manter sempre o mesmo corrimento, pois o lume que arde
e dá o calor deve ser mantido mais ou menos constante, com boas brasas e sem
chama. Se escorrer demasiado, passa-se um pano molhado à volta do pote. Se
não deitar o suficiente mete-se mais lenha, usando sempre este método até sair
fraca.
A prova é feita com um
copo pequeno: se é saborosa, se é forte ou fraca...mas ao lançar-se um pouco
dela às brasas, se as incendiar, fazendo chama, é sinal de estar forte...
A primeira aguardente
retirada, cerca de 2 jarras, parece água destilada, e só à medida que decorre a
fervura vai sendo cada vez mais forte, no fim, já sai mais fraca. Era também
normal misturar (caldear) a aguardente mais forte com a mais fraca.
Ao que nos dizem, hoje
em dia, é muito perigoso fazer-se a aguardente desta maneira, tão rica e tão
popular…É proibido!...Falta o controlo de qualidade…Falta a certificação…Falta
o cartão de produtor…Falta o registo das Finanças…Falta…Falta…
Falta valorizarmos o
que é nosso.
Quantos produtos
genuinamente nossos, se vão continuar a perder por este mesmo motivo?
É PENA!
Deixo aqui o meu
protesto!
"A Minha Rua", Joaquim Luís Gouveia
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