“Ó Meu Menino Jesus
Ó Meu Menino tão beloLogo viestes nascer
Na noite do caramelo”
No Largo da
Praça, indiferente a este temporal, o madeiro continuava a arder.
A sua chama
aquecia os corações dos resistentes…aqueles para quem esta noite, é única e
repleta de magia!
O céu,
escuro e rancoroso, recebia raios de luz, que emergiam do madeiro que, em
tempos idos, representava o esforço de muitos homens e de outros tantos litros
do generoso líquido que Baco consagrou.
Lá ao fundo
do povo, a torre cimeira da igreja testemunhava mais um Natal. Sinal de fé e
respeito para todos os cristãos: na missa de Natal, o ritual de beijar o Menino
Jesus, repetir-se-ia.
Coxia acima,
andares trémulos e forçados levavam corpos, já cansados e gastos, até ao senhor
prior. O beijo, sinal de respeito, pelo Menino que acabara de nascer saía,
muitas vezes, demasiado longo e húmido. A perna da simbólica figura era
repetidamente limpa com gestos, automáticos, do jovem pároco da aldeia.
A envolver
este momento alto, de convivência cristã, ouviam-se genuínos cânticos, oriundos
das gargantas, já gastas, rasgados em notas incompletas, de um grupo de
mulheres e, alguns homens, que persistem em fazer chegar esta manifestação de alegria
a todos os «anjos» que, com toda a singeleza, tornaram possível o nascimento do
Menino Jesus.
"A Minha Rua", Joaquim Luís Gouveia
Sem comentários :
Enviar um comentário