27/10/2019

O Morgado e a primeira corrida automóvel


A 27 de outubro de 1902, faz hoje 117 anos, realizou-se a primeira corrida automobilística em Portugal: Figueira da Foz- Lisboa. O motivo desta evocação prende-se com o facto do principal protagonista desta prova ter sido José Caetano Tavares de Melo da Costa Lobo, então com 26 anos, conhecido entre nós como último “morgado” de Santo Amaro.


A corrida contou com 11 inscritos, entre os quais dois Darracq, marca representada em Portugal pela Empresa Automobilística Portuguesa que nesse ano tinha sido fundada em Coimbra por Tavares de Melo. Um dos carros seria conduzido por ele próprio e o outro por um afamado piloto françês de nome Edmond, contratado para o efeito. Acontece que o dito Edmond perdeu o comboio que o levaria de Coimbra à Figueira e, na hora da partida, cerca das 6 da manhã, Tavares de Melo partiu não no carro em que se inscrevera mas no outro que era mais potente. Em Coimbra deu o lugar ao piloto Edmond e este foi o primeiro a chegar ao Campo Grande. No entanto, a organização entendeu desclassificar o carro pois o piloto que partiu não foi o mesmo que chegara. E estava instalada a polémica com Tavares de Melo a lavrar protestos em todo o lado que os jornais da época alimentaram durante muito tempo. Para a história ficou este incidente mas também o tempo gasto no percurso: partiu da Figueira da Foz às 5 horas e 57 minutos da manhã e chegou ao Campo Grande às 12h e 24 minutos. O segundo carro, da marca Fiat, que seria depois declarado vencedor, chegou mais de uma hora depois e era propriedade do Infante D. Afonso.

Tavares de Melo foi um dos primeiros empresários e empenhado percursor das corridas automóveis em Portugal. Uma actividade iniciada por seu pai, Eduardo Tavares da Costa Lobo que, em Abril de 1897, importou o primeiro automóvel sobre pneus que deu entrada em Portugal: um Peugeot com motor Panhard colocado à retaguarda com a força de 1 cavalo e ¾, 3 velocidades e marcha-atrás. Diz a história que o primeiro carro com motor mecânico em Portugal era propriedade do Conde de Avilez e chegou em 1895, um Panhard & Levassor. O que é verdade. Mas o carro tinha rodas de ferro. O primeiro, com pneus, chegou dois anos depois pela mão do “Morgado” de Santo Amaro.


José Caetano Tavares de Melo Costa Lobo, nasceu em Santo Amaro em 2/11/1876, filho de Eduardo Tavares de Melo Costa Lobo (Santo Amaro) e Eugénia da Conceição Peixoto Brandão (Porto). Neto paterno de José Caetano Tavares da Costa Lobo e Souza (Covilhã) e Antónia Carolina de Mello Machado Côrte Real (São Martinho, Seia) e materno de João Filipe de Magalhães Brandão (Guimarães) e Maria Teresa Conceição Peixoto Brandão (Lisboa).
Em 1893, então com 17 anos, matricula-se no 1º ano de Direito na Universidade de Coimbra e em 1900 termina o curso como Bacharel. Curso que seu pai havia frequentado de 1861 a 1866.




















Esta é uma das muitas estórias que envolve a vida de José Caetano Costa Lobo, nascido na Quinta de Santo Amaro e registado natural do Casteleiro. Ao seu percurso no mundo dos automóveis e outros, voltaremos brevemente.







"Reduto", crónica de António José Marques

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