Há cerca de 45 anos, por meados de junho, vindo de Lisboa, chegava
anualmente ao Casteleiro para iniciar as “férias grandes”. Recordo que tinha
três visitas que fazia de imediato. Ir a casa da tia Adelaide e Manuel Diogo,
ir a casa da tia Ressurreição e Joaquim Diogo e subir o balcão do “tó alfaiate”.
O Tó recebia-me sempre com grande carinho. Era um encontro de um jovem
adolescente e um adulto com mais de o dobro da minha idade. Encontrava-o no seu
trabalho de alfaiate num espaço com pouco mais de quatro metros quadrados, uma
grande mesa que ocupava metade e, do lado esquerdo, uma pequena cadeira onde me
sentava enquanto ele continuava a marcar os tecidos, a cortar as fazendas quase
sempre também ele em cima da mesa. Um ritual que se repetiu durante muitos
anos. E aquela sua “oficina”, qual porto de abrigo a qualquer hora do dia ou
noite dentro, encerra estórias que, não sendo escritas, permanecem na minha memória
e na de muitos e muitos dos seus amigos.
Falar do Tó é fácil. De como ele estimava os seus amigos, do
seu amor incondicional ao Casteleiro. Em 1974, logo a seguir ao 25 de Abril,
fez parte da Junta de Freguesia com o Sr. Manuel Guerra e o Joaquim Roxo.
Sempre disponível, o Tó foi e será uma figura incontornável da Aldeia.
No início dos anos oitenta, num janeiro frio, o tó casou-se.
Grande motivo de Festa e de mais uma vinda desde Lisboa para o acompanhar. Lá fomos
até à Quarta-Feira, terra da Celeste. E a boda foi forte e duradoura.
O Tó partiu há três dias. Ontem rumei ao Casteleiro. Passei
pelo “balcão” e olhei para o pequeno espaço que foi a sua oficina, segui para a
Igreja. Ficam as memórias.
O Casteleiro está mais pobre. Eu estou mais pobre!
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