“Maria do Céo” nasceu pelas oito horas da noite do dia 23 de
maio de 1900 no lugar de Enxames, freguesia da Fatela, concelho do Fundão. Foi
baptizada no dia 13 de julho do mesmo ano, na Igreja de São João Baptista da
Fatela.
Ilegítima por ser filha de pai incógnito, era filha de
Theresa Jorge de Carvalho, solteira, com a profissão de costureira, empregada
de casa do Padre António Vaz Barreiros, natural e moradora na freguesia das
Inguias, concelho de Belmonte. Foi padrinho de baptismo Manoel Mathias Lopes,
solteiro, pastor e madrinha Maria Nunes dos Santos, solteira, costureira, ambos
da freguesia da Capinha.
Theresa de Carvalho, mãe da Maria do Céo, nascera às dez
horas da manhã do dia 26 de Setembro de 1876, filha de José Rodrigues Carvalho,
carpinteiro e de Theresa Jorge, fiadeira, naturais e moradores na freguesia das
Inguias que tinham casado em 14 de agosto de 1865, ele com 29 e ela com 20 anos.
Era neta paterna de Thimóteo Ambrósio, pastor, natural de Caria e de Maria de
Carvalho natural das Inguias. Por parte da mãe era neta de António Rodrigues
Leitão e de Maria Jorge, igualmente das Inguias.
A Maria do Céu, após ter passado os seus primeiros anos de
vida nos Enxames, segundo as nossas fontes regressou às Inguias para junto da
mãe e aí frequentou a escola.
Em 20 de janeiro de 1919, com apenas 18 anos, casou
civilmente nas Inguias com Joaquim Lopes Neves Mendes Guerra, natural do
Casteleiro, então com 25 anos, que terminara em 1916 o curso de Direito na
universidade de Coimbra.
Começava nesta data o período uma nova etapa na vida da,
agora, Dona Maria do Céu, durante décadas conhecida como a “Senhora” da Quinta.
A Quinta Mimosa. A 31 de Janeiro de 1951 morre, nas Inguias, a sua mãe Teresa.
E dois anos mais tarde, a 24 de Janeiro de 1953, perde o marido, Joaquim
Guerra, na sequência de uma hemorragia cerebral. Fica viúva aos 52 anos.
O Dr. Joaquim Guerra era filho de um dos mais abastados
proprietários do Casteleiro, Manuel José Fernandes Mendes Guerra casado com
Emília dos Prazeres Neves Mendes Guerra, natural de Tamanhos, concelho de
Trancoso. Sobre a vida e personalidade deste nosso conterrâneo já aqui, em
crónica anterior, fizemos referência. Assim, por ocasião da sua morte, o
património agrícola era imenso e, sem duvida, o principal empregador da aldeia
a par da Quinta de Santo Amaro. O Casteleiro tem de área 4300 hectares. As duas
maiores quintas, Santo Amaro e Valverdinho, somariam, na altura, cerca de 2400
hectares. A “casa” agrícola do Dr. Guerra estaria muito próximo dos 500
hectares.
A “Quinta” foi durante muitas décadas uma referência em
vários aspectos. A Dona Maria do Céu, benfeitora, teve uma vida sempre ligada à
Igreja. Essa é uma realidade bem conhecida dos casteleirenses. Contribuiu e
apoiou monetariamente diversas obras de índole religiosa nomeadamente nos
distritos da Guarda e Castelo Branco. São disso exemplo a construção do novo
edifício do Seminário Maior da Guarda, inaugurado em 1931, as referências existentes
no arquivo da Santa Casa da Misericórdia do Sabugal (que lhe prestou homenagem)
ou mesmo um subsídio de 250$00 (quando a média de donativos era de 40$00) dado
ao Jardim Escola João de Deus de Castelo Branco, como nos refere o jornal “Beira
Baixa” de 13 de Março de 1960.
E muito mais se poderá escrever sobre a “Senhora”. Este é
apenas um contributo de pendor e âmbito genealógico.
Faleceu no dia 1 de Janeiro de 1987. Está sepultada no
cemitério do Casteleiro junto ao seu marido e também do Padre António Vaz
Barreiros que falecera a 1 de Abril de 1954, tendo passado os últimos anos de
vida na Quinta Mimosa.
Na lápide da sua sepultura está escrito “Aqui jaz D. Maria do
Céu Barreiros Guerra”. Após uma vida de 87 anos com um assento de baptismo onde
estava escrito “ilegítima”, apenas na morte lhe foi reconhecida a paternidade.
"Reduto", crónica de António José Marques
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