Era assim que o cartaz colocado sobre a sinalética, no largo
de S. Francisco, anunciava o espetáculo de circo para a noite de sábado
passado.
Estrada a baixo
estrada a cima, um som estridente saía de uns altifalantes colocados sobre o tejadilho
da furgoneta que, de nova, apenas tinha o condutor.
Respondendo a este som
inconveniente, e lá bem do alto da torre, o sino da igreja batia as seis
badaladas, prenúncio de mais um dia que estava a terminar. Com o cair da tarde,
aproximavam-se do povo rostos cansados, enrugados pelos anos e pelas agruras da
vida.
Entretanto, no largo de
S. Francisco, tudo estava preparado para o espetáculo da noite.
As cadeiras vazias
aguardavam pelo chamamento sonoro que inundou as ruas desertas do Casteleiro.
Enquanto isso, o dono
do circo escolheu o belo banco de madeira que, diariamente, se abriga por
debaixo das frondosas árvores do largo, fazendo contas a uma vida povoada de
ilusões, em que o próximo desafio é sempre o dia seguinte.
Para estes semeadores
de ilusões e de sorrisos contagiantes, mesmo quando a vida lhes vira as costas,
vai a minha singular homenagem!
Nota 1
É de elementar justiça
lembrar, aqui, Delfim Paixão – eterno comediante, de um tempo já longínquo, que
fez do Casteleiro o seu verdadeiro porto de abrigo.
Morava nos
“Italianos”- antiga separadora de minério, à guarda, na altura, de Joaquim
Pedro.
Hoje já não há
“italianos”; Delfim partiu definitivamente. Enquanto isso, a magia contagiante
do circo continua a levar alegria e boa disposição, mesmo às aldeias
solitárias, espalhadas por este interior, tão distante de Lisboa…
"A Minha Rua", Joaquim Luís Gouveia
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