19/02/2010

Casteleiro: terra de volfrâmio (III)

Último «capítulo» sobre o volfrâmio na nossa terra: 1 – demonstrar a importância social que teve este fenómeno na aldeia e nas aldeias vizinhas e 2 – trazer aqui a memória de quem eram os intermediários e a quem os mesmos vendiam o tungsténio (volfrâmio) e o estanho, que ia quase sempre em conjunto. Finalmente, 3 – onde era «separado» o minério por aquecimento em «fornos».

1
Já sabemos que quase toda a gente da aldeia andava nesta espécie de safra. Isso quer dizer que poucas famílias ficaram de fora do fenómeno. Sabemos também que para os preços da época o minério era muito bem pago. Muitas pessoas me repetiram ao longo de décadas que livraram as suas famílias de apertos e até de dívidas. Algumas pessoas jovens puderam inclusive dar o dinheiro do minério aos seus pais e estes compraram com essa soma semanal coisas tão importantes como uma junta de vacas ou um carro de bois. São factos que me têm sido sempre referidos.
Concluo portanto que do ponto de vista sócio-económico, poucos fenómenos beneficiaram tanto aquelas gerações como o minério.
Comparo sempre o que aconteceu naquela meia década (1938-1943, época forte do minério) com aquilo que se passou mais tarde com a emigração: esta também afectou quase todas as famílias e trouxe a toda a aldeia grandes benefícios – a par de muitos traumas e problemas de outro tipo. Mas do ponto de vista do rendimento familiar foi muito vantajoso para quase todas as famílias, também.

2
O minério era apanhado e limpo no campo de recolha e, ao final da semana, era vendido a intermediários que apareciam no Casteleiro e depois o transaccionavam para terceiros de modo a que o minério fosse no final parar às mãos de ingleses e de italianos.
No Casteleiro operava uma grande «companhia» (empresa) de recolha: era a «Companhia do Barreiros», um familiar do Dr. Guerra, que era também das Inguias e que aqui veio fazer mais fortuna, dando trabalho mas explorando quem contratava, como era da norma.
Muita gente trabalhou nessa companhia.
Mas muita gente trabalhava por conta própria e depois vendia o produto aos intermediários. Estes chegavam das proximidades da Covilhã mas também do Vale de Lobo (hoje, Vale da Senhora da Póvoa).

3
A principal separadora com fornos mais modernos e maiores, a dos «Italianos», no Casteleiro (no local onde hoje fica o Café Estrela) nem sequer chegou a funcionar porque a guerra acabou para o país dos donos das instalações (a Itália foi ocupada pelos Aliados em 1943).
Mas ali mesmo, ao canto da vinha que havia ao lado, mesmo em frente do portão do Sr. José Azevedo (Zezinho Azevedo), havia um forno não muito grande mas que aqueceu e «separou» muito minério durante dois ou três anos. Era ao fundo da vinha que referi, mesmo à beirinha da estrada.
E no Terreiro das Bruxas sempre funcionou também uma separadora.

Naqueles anos, o minério era tão dominante e absorvente como o ouro do Brasil o fora 70 ou 80 anos antes no País. As pessoas, algumas pessoas, estavam tão embevecidas com as notas que saltavam no bolso que se contam histórias loucas. Por exemplo e sem que possa ser confirmado: um dia, um grupo de «mineristas» do Vale de Lobo vinha no comboio depois de uma viagem a Lisboa para gozarem a vida e, à conversa com o revisor, gabavam-se das notas no bolso. O revisor, malandro, ofereceu-se para então lhes vender o comboio… Consta que o compraram ali mesmo e o pagaram… Mas nunca mais terão visto o revisor, claro, para lhes entregar a «mercadoria»…
Divirtam-se.
Boa noite!





"Memória", espaço de opinião de autoria de José Carlos Mendes

Sem comentários :

Enviar um comentário